Imagem ilustrativa da imagem Caratê e Londrina completam bodas de ouro neste ano
| Foto: Ricardo Chicarelli

A Associação Londrinense de Karatê (ALK) completou 50 anos de atividades em 2019, história que começou no fim de 1969, quando o professor Norio Haritani montou a primeira turma do estilo Shotokan de Londrina. As aulas eram ministradas inicialmente em um barracão de madeira, que ficava na rua Fernando de Noronha, entre as ruas Belo Horizonte e Santos, e que, ao contrário da entidade, não está mais em pé.

O estilo foi desenvolvido pelo sensei Gichin Funakoshi e pelo filho, na ilha japonesa de Okinawa, no fim do século 19. Shoto era o pseudônimo de Funakoshi como escritor, e significa "ondas de pinheiro". Kan representa a "escola". Segundo o professor Luiz da Silveira, discípulo de Haritani, Londrina já possuía praticantes de caratê antes do surgimento da associação. “Tinha um professor chamado Nayuki Hirakawa, mas ele não tinha um estilo definido porque era autodidata, mesclando o estilo Shintoyu com o Shotokan”, revela Silveira.

Haritani se firmou por aqui, enquanto Hirakawa se mudou para o Rio de Janeiro. Como naquela época ainda não havia uma federação paranaense de caratê, o esporte foi vinculado à Federação Paranaense de Pugilismo. Somente no dia 2 de setembro de 1972 foi realizado o 1º Campeonato Paranaense de Karatê, que contou com a participação de academias de Maringá, Londrina e Curitiba.

“Nas primeiras competições, o pessoal não tinha noção de como arbitrar, porque não tinha uma regra ou um protocolo certo do que era ponto. O árbitro decidia quem era o vitorioso por aquele que dava mais socos", conta Silveira. "Para melhorar isso, foram trazidos professores de fora, começaram a surgir cursos e as coisas começaram a tomar um rumo mais definido”, completa o professor, que lembra que, desde então, os torneios da modalidade passaram a obrigar os atletas a usar luvas e foi criado um sistema de pontuação.

OS DISCÍPULOS

Uma dos registros vivos do desenvolvimento do caratê na cidade, Silveira revela que desde criança queria entender e conhecer uma arte marcial. Ele tentou outras, mas não se empolgou e somente quando conheceu o professor Norio Haritani decidiu pelo caratê. “Foi uma coisa impressionante. Isso foi em 1975, há 44 anos. Logo no primeiro dia senti que era o que estava procurando”, relembra.

O colega dele Rubem Cauduro teve trajetória diferente. Ele fazia ginástica olímpica no Canadá Country Clube com o professor Décio, mas o ensino da modalidade foi extinto. “Morria de medo de arte marcial, mas fui assistir a uma aula de kata [sequência de movimentos e técnicas de ataque e defesa] e achei legal. Quando fui na aula seguinte, cheguei mais cedo e os alunos estavam lutando. Quase caí de costas", afirma. "Estava saindo de fininho quando o professor Norio falou 'Não, não, não. Você vai fazer a aula'”, destaca.

Os dois se recordam que Haritani era muito didático e centrado. Silveira cita que as aulas não ficavam restritas à parte técnica e que aprenderam muito também por meio do ensino teórico. “O professor Norio tinha dificuldade com o português e às vezes a gente ficava confuso com certas coisas, mas ele explicava de maneira muito didática. Ele cobrava respeito com a família, chamava a atenção sobre como se comportar diante das pessoas e cobrava muito a disciplina de seus alunos”, diz Silveira.

Cauduro acrescenta que o cuidado com os alunos o fez cursar educação física, para dar aulas com mais qualidade. “Mesmo que ele nunca tenha vivido do caratê, ele teve essa percepção e essa responsabilidade há 50 anos, para melhorar o conhecimento de fisiologia e anatomia."

Haritani faleceu aos 64 anos, no Templo Budista de Brasília (DF), mas o mestre dele, Kiichi Hiraishi, permanece vivo no Japão. Silveira diz que o momento mais marcante da associação foi quando Hiraishi veio à sede do grupo na cidade. “Achamos que seria apenas uma visita, mas ele vestiu o quimono e começou a ministrar uma aula aos 80 anos. Com essa idade, ele levantou a perna simulando um golpe até a altura do queixo de um aluno”, relata.

Em 50 anos de estrada, a ALK teve mais de 10 mil alunos. Atualmente está com 20 vagas abertas para praticantes da terceira idade, sem custo algum. Se o idoso tiver interesse em conhecer a academia, as aulas são às segundas, quartas e sextas-feira, das 9 às 10 horas. A sede fica na rua Argentina, 685, na Vila Brasil.

Luiz da Silveira começou a treinar na academia em 1975 e hoje é professor. Rubem Cauduro trocou a ginástica olímpica pelo caratê. | Vídeo: Vitor Ogawa.