São Paulo - O atleta José Fernando Ferreira Santana, que vai representar o Brasil na prova do decatlo nas Olimpíadas de Paris, não escondeu o descontentamento ao receber seu kit para disputar os jogos.

Segundo José Fernando, sua mochila veio apenas com três peças: uma regata, um macaquinho e um short. Ele diz que precisará investir dinheiro do próprio bolso para comprar os calçados e equipamentos e ainda terá que lavar o uniforme entre uma etapa e outra do decatlo.

"Vocês não têm ideia do quanto foi broxante (sic) receber o material da seleção", escreveu José Fernando no X nesta segunda-feira (22). "Sempre achei que, nas Olimpíadas, receberíamos uma mala de materiais, com tênis, roupas e sapatilhas, mas parece que não é bem assim para nós", desabafou.

O kit foi entregue pela Puma, patrocinadora da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). Ainda na rede social, José Fernando explicou aos seguidores que utiliza sete sapatilhas diferentes para cada etapa da prova.

"Estou indo para os jogos olímpicos sem patrocínio de marca esportiva, ou seja, vou investir do meu dinheiro para comprar as sapatilhas. Sei que vai me ajudar muito", escreveu.

Em seguida, ele explicou um pouco para os seguidores sobre como é sua modalidade, uma das mais tradicionais dos jogos olímpicos: "Irei passar mais de 20 horas na pista de atletismo. [São] dois dias de competição divididos em quatro etapas", conta.

"Assim que acabarem as provas do primeiro dia, irei voltar para a vila e lavar meu material, ou competir com ele sujo", escreveu. Para ilustrar seu sentimento de frustração, José Fernando postou uma foto do kit de um atleta da Espanha, com peças e mais peças de roupas, calçados e equipamentos espalhados pelo sofá: "Em outras seleções, é assim que funciona", lamentou.

O atleta prosseguiu: "Estamos falando de Olimpíadas, o evento mais importante do esporte mundial. Na minha prova tem 24 participantes. Eu ainda nem fiz minhas malas para ir a Paris, e é claro que isso não diminui o tamanho do meu feito, que é estar dentre os 24 melhores do mundo. Mas isso é broxante", encerrou.

José Fernando, de 25 anos, conhecido como Balotelli, é o único representante brasileiro no decatlo. Ele é o melhor sul-americano da atualidade e conquistou a prata nos Jogos Pan-Americanos de 2023, em Santiago, no Chile.

O decatlo consiste em dez provas: 100 metros rasos, salto em distância, arremesso de peso, salto em altura, 400 metros rasos, 110 metros com barreiras, lançamento de disco, salto com vara, lançamento de dardo e 1.500 metros.

MINISTÉRIO DO ESPORTE

O kit de uniformes fornecidos aos atletas brasileiros para as Olimpíadas 2024 virou alvo de críticas. Depois das reclamações públicas do material de alguns esportistas, o Ministério do Esporte (Mesp) se pronunciou sobre a polêmica nesta segunda-feira (22). Em nota, o órgão reiterou que a responsabilidade é do Comitê Olímpico do Brasil (COB).

O Mesp começa o comunicado negando ser responsável pelos uniformes dos atletas. "É falsa a informação que o Ministério do Esporte seja responsável por confeccionar e fornecer kits de uniforme e equipamentos para a delegação brasileira que irá competir nos Jogos Olímpicos de Paris", explicou. "É responsabilidade do Comitê Olímpico do Brasil (COB) a distribuição das roupas de viagens, desfile, cerimônia de abertura e dia a dia na Vila Olímpica para todos os atletas brasileiros"..

Ainda na nota, o Ministério do Esporte ressalta que o apoio do governo se dá por meio do Bolsa Atleta, um programa contínuo mensal, que nesta edição das olimpíadas, contempla 88% dos 276 atletas classificados para as Olimpíadas. "O Ministério reitera que se mantém comprometido em apoiar e promover o desenvolvimento esportivo e a participação dos atletas brasileiros, concentrando suas principais ações em áreas diretamente ligadas ao incentivo e ao suporte ao esporte nacional", publicou.

José Fernando Ferreira, atleta do decatlo conhecido como Balotelli, foi o primeiro a se queixar abertamente do material. Ele disse os uniformes recebidos são insuficientes para a quantidade de provas que disputa e que precisou arcar com a compra de sete pares de sapatilhas do próprio bolso.

Fernando Ferraz, também do decatlo, contou que irá lavar o material na Vila Olímpica. "Vou passar mais de 20 horas na pista de atletismo, dois dias de competição divididos em quatro etapas, e recebi apenas uma regata, um macaquito e um short balão. Assim que terminar as provas do primeiro dia, terei que voltar para a Vila Olímpica e lavar meu material ou competir com ele sujo", disse Ferraz.

Izabela Silva, do lançamento de disco feminino desabafou após receber roupas masculinas e nenhuma peça feminina porque, segundo foi informada, não havia tamanhos maiores do que o médio. A distribuição dos uniformes de competição cabe a cada confederação e ao fornecedor escolhido. A Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) trabalha em parceria com a Puma.

Imagens de atletas do vôlei feminino recebendo uniformes em sacos plásticos viralizaram nas redes sociais, aumentando ainda mais a repercussão negativa do material. Além disso, duas atletas do rugby mostraram que pretendiam trocar as saias do uniforme feminino por calças compridas. (Ana Cora Lima/Folhapress)