Paris - A mais ambiciosa abertura das Olimpíadas na história superou inúmeras dificuldades logísticas, ameaças terroristas e até a sabotagem do sistema ferroviário do país horas antes de seu início. Mas foi a chuva, irregular, insistente e inclemente que estragou a festa em Paris.

Um espetáculo desconstruído, em que a tradicional sequência festa, desfile de atletas, hino e discurso, receita de bolo de muitas Olimpíadas, foi completamente pervertido.

Pelo Sena, a prometida parada náutica com atletas de 206 delegações se deu sem grandes transtornos, pontuados por espetáculos que falavam de séculos de França por 6 km de rio. Lady Gaga, Aya Nakamura, os Minions e até dançarinas do Moulin apareciam em apresentações às margens do Sena e em pontos turísticos conhecidos da capital francesa, como o museu do Louvre e Grand Palais.

Uma espetacular execução do hino francês pela mezo soprano Axelle Saint Cirel no teto do icônico prédio, empunhando a bandeira tricolor, ocorreu no meio da festa, quando parte do publico de 320 mil pessoas se dispersava, procurava abrigo ou se enlameava nas áreas confinadas pelo forte esquema de segurança.

Fogos de artifício com as cores nacionais francesas explodem sobre Pont d'Austerlitz durante a cerimônia de abertura
Fogos de artifício com as cores nacionais francesas explodem sobre Pont d'Austerlitz durante a cerimônia de abertura | Foto: DAmien Meyer - AFP

PIRA OLÍMPICA

O grande segredo da festa foi revelada no final. Teddy Riner e Marie-José Perec foram os responsáveis por acender a pira olímpica. Antes, em discurso, o presidente do COI, Thomas Bach, celebrou Paris como a cidade natal de Pierre de Coubertin, "nosso fundador" e a "quem tudo devemos". "Vamos todos juntos viver os Jogos Olímpicos mais inclusivos, mais urbanos, mais jovens, mais duráveis. Os primeiros Jogos Olímpicos com total paridade de mulheres e homens nas competições."

No trecho entre as pontes Alexandre 3º e De l'Alma, grande parte dos espectadores eram parisienses que receberam ingressos gratuitos -mas em pé e com péssima visibilidade do rio, depois de mais de uma hora de espera na fila.

A chuva transformou alguns trechos desse setor em um lamaçal. Quem podia, tentava subir onde dava: grades, estações de energia e até um trator imprudentemente deixado ali, até a polícia tirar.

"Não sei qual a graça. É como ficar vendo os bateaux-mouches passarem", comentou um espectador. Quando o barco do Brasil passou, centenas de pessoas já estavam indo embora sob a chuva.

Foi a primeira cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos realizada fora de um estádio
Foi a primeira cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos realizada fora de um estádio | Foto: Stephanie Lecocq / POOL / AFP

No final do trajeto, no Trocadero, em frente à Torre Eiffel, os atletas chegavam em menor número, sugerindo que parte das delegações estava sendo poupada. Nas tribunas, sem a mesma opção, autoridades, público e jornalistas sofriam sob muita água. Apenas o trecho onde estava o presidente Emmanuel Macron era mais protegido.

"Os Jogos mais abertos da historia", um dos bordões da ambiciosa campanha francesa, começaram sob o policiamento de 45 mil homens e a ressaca de uma manhã prejudicada por atos de sabotagem em linhas do TGV em todo o país. A "ideia louca" de fazer uma festa fora de um estádio pela primeira vez, como descreveu Macron, perdeu o brilho debaixo de muita água.

Imagem ilustrativa da imagem Abertura dos Jogos supera ameaças terroristas, mas perde o brilho na chuva
| Foto: Paul Ellis - AFP

BRASIL

Com pouco mais de um terço dos atletas que competirão nas Olimpíadas de 2024, a delegação do Brasil se apresentou nesta sexta-feira (26) ao público em Paris, sobre as águas do rio Sena, na cerimônia de abertura dos Jogos, em sua 30ª edição da era moderna (iniciada em Atenas-1896). A ampla maioria estava com bandeirinhas do país em uma das mãos, observando do convés a paisagem ao seu redor.

Naquele momento, não chovia, mas Paris teve um dia molhado, com garoa insistente nas horas que precederam a cerimônia, a primeira na história dos Jogos realizada fora de um estádio. E mesmo durante a passagem dos barcos.

No barco batizado de Bel Ami (Bom Amigo), exclusivo para os brasileiros, cada um trajava o criticado uniforme providenciado pela varejista Riachuelo: jaqueta jeans azul-marinho com um símbolo da fauna brasileira bordado às costas, camiseta (amarela, verde ou azul) por baixo, saia ou calça brancos e chinelos Havaianas.

À frente deles, na proa do barco, com uma bandeira do Brasil maior, os porta-bandeiras Raquel Kochhann, capitã do time de rúgbi sete, e Isaquias Queiroz, dono de quatro medalhas olímpicas na canoagem velocidade, ambos com histórias pessoais de superação.

Raquel teve câncer de mama e tumor ósseo no peito em 2022. Isaquias, quando tinha dez anos, precisou extrair um dos rins –o órgão ficou comprometido depois de ele cair de uma árvore.

Eram cerca de cem atletas no Bel Ami, de acordo com o COB (Comitê Olímpico do Brasil), de 11 esportes: atletismo, badminton, boxe, ciclismo (BMX e mountain bike), esgrima, handebol, hipismo (adestramento e saltos), judô, rúgbi, vela e vôlei de praia.

Nos Jogos de Paris, o Brasil tem ao todo 277 atletas, sendo mulheres a maioria (154).

Cerca de 100 atletas, de 11 esportes, participaram da cerimônia
Cerca de 100 atletas, de 11 esportes, participaram da cerimônia | Foto: Bertrand Guay - AFP