O número de trabalhadores informais no mercado brasileiro atingiu recorde de 39,3 milhões no segundo trimestre de 2022, segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, divulgada nesta sexta-feira (29) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É o maior contingente da série histórica, que teve início no quarto trimestre de 2015.

O número de trabalhadores informais no mercado brasileiro atingiu recorde de 39,3 milhões no segundo trimestre de 2022
O número de trabalhadores informais no mercado brasileiro atingiu recorde de 39,3 milhões no segundo trimestre de 2022 | Foto: iStock

Entretanto, ter a carteira de trabalho assinada é o sonho de muitos cidadãos que buscam a formalidade. É o caso de Jorge Kasprovicz, 18 anos. Com experiência em uma metalúrgica e uma empresa de tecelagem, o jovem nunca teve a garantia do registro. "No mais recente trabalho, a empresa teve uma redução de pedidos, eu fui dispensado e, além da perda dos recebimentos, fiquei diante do financiamento da moto que havia comprado fazia pouco tempo", expõe.

Do ponto de vista de Kasprovicz, o registro formal representa muitas vantagens. "Primeiramente, quando se tem o registro, fica mais fácil comprovar a experiência profissional, tem o 13º, as férias e tudo isso representa mais segurança - não só financeira", opina.

Cadastrado na Secretaria Municipal do Trabalho, Emprego e Renda de Londrina, o trabalhador está de olho em uma vaga de auxiliar de oficina mecânica. "Vi a vaga quando vim fazer o cadastro. É um universo com o qual me identifico e pretendo me dedicar para crescer."

Desde que perdeu o trabalho na empresa de tecelagem onde produzia cadeiras de alumínio e fibra sintética, Kasprovicz passou a fazer entregas de moto. Além de um trabalho com registro em carteira, o jovem pretende cursar Engenharia Mecânica. Ao lado da avó, o morador do Jardim Pinheiros (zona oeste), acredita em um futuro promissor por meio de seus esforços.

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A gerente de atendimento e captação de vagas da Secretaria Municipal do Trabalho, Emprego e Renda de Londrina, Nayara Costa Pescador, aponta que a segurança proporcionada pelos benefícios é o que mais atrai os trabalhadores. "Todas as contratações são dentro das leis trabalhistas contidas na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) e isso também é um ponto fundamental para os empregadores, que fazem questão de estar dentro das regras tradicionais de contratação", explica.

"Todas as contratações são dentro das leis trabalhistas e isso também é um ponto fundamental para os empregadores", diz Nayara Pescador
"Todas as contratações são dentro das leis trabalhistas e isso também é um ponto fundamental para os empregadores", diz Nayara Pescador | Foto: Walkiria Vieira

O mercado está aquecido, de acordo com a gerente, e as ofertas de trabalho se renovam semanalmente. "Após a pandemia houve um 'boom' de ofertas e as vagas aqui disponibilizadas vão desde o ensino fundamental incompleto ao superior, podendo o candidato ter experiência ou não", cita. Entre as vagas abertas, Pescador menciona as oferecidas por uma rede de supermercados. "É para jovens aprendizes. Ao todo são 50 vagas e entre as atividades estão a de empacotador e de repositor", destaca.

Alternativas vistas com outra ótica

Para o secretário do Trabalho, Emprego e Renda, Gustavo Santos, a cultura do trabalho com carteira assinada ainda é uma busca dos trabalhadores, mas as alternativas estão sendo vistas com outra ótica. “A carteira assinada oferece uma segurança para o trabalhador. Além dos benefícios, quando uma pessoa está no regime de CLT ela se sente mais confortável para, por exemplo, investir em um curso de longa duração ou adquirir um produto com prestações a longo prazo, pois conta com o salário fixo. Mas, por outro lado, vemos um crescimento muito substancial nos microempreendedores individuais (MEIs) na cidade. Passamos de pouco mais de 30 mil para quase 45 mil MEIs registrados em Londrina nos últimos dois anos”, conta Santos.

“Sabemos que nesse volume de novos empreendedores existem dois perfis: os que precisaram e os que desejaram empreender. Mas dentro desse cenário, muitos descobriram que gerir um negócio traz muitos desafios, mas também permite uma flexibilidade de horário, um faturamento às vezes maior do que com um salário fixo, uma liberdade de escolha, e isso sem abrir mão dos direitos que o trabalho formal tem, mas que constituir o MEI também garante, como auxílio doença e contagem de tempo de aposentadoria, por exemplo”, explica o secretário.

Santos destaca que a Secretaria Municipal do Trabalho, Emprego e Renda está à disposição para o trabalhador, seja qual opção ele tomar para sua vida profissional. “Para todos que desejarem se tornar empreendedores, nós temos o cobertor da Sala do Empreendedor, que oferece orientação especializada, capacitações, acesso ao crédito, ferramentas de gestão e muito mais. Os que preferirem ingressar no mercado formal contam também com nossa intermediação de mão de obra, nossos cursos de qualificação para se capacitar para as oportunidades e nosso auxílio nos diferentes processos seletivos. Ambas as escolhas trazem um leque de opções e, independentemente de qual seja sua opção, nós estamos de portas abertas para auxiliar”, ressalta.

Sem registro em carteira e com os pés no chão

O músico Renan Mariano, 27 anos, é autônomo. Disciplinado, sente-se realizado profissionalmente, ao mesmo tempo em que consegue ter saúde financeira trabalhando com o que ama. "Minhas apresentações são em em eventos sociais como restaurantes, casamentos, aniversários e outras confraternizações", revela o profissional, que nunca teve um registro em carteira e, embora esteja ciente de sua opção, reconhece os pontos negativos. "Pretendo alugar um apartamento e sei que quando se tem um registro formal de trabalho, é mais prático comprovar a renda".

"Pretendo alugar um apartamento e sei que quando se tem um registro formal de trabalho, é mais prático comprovar a renda", diz Renan Mariano
"Pretendo alugar um apartamento e sei que quando se tem um registro formal de trabalho, é mais prático comprovar a renda", diz Renan Mariano | Foto: Walkiria Vieira

O pai do músico é servidor público e uma referência e tanto sobre as vantagens da estabilidade. "É outra realidade, mas estou bem e nesse momento, após toda a crise econômica da pandemia, nós músicos estamos com muitos trabalhos e passamos a ser mais valorizados, pois o cachê dobrou", alegra-se. Na ocasião, Mariano estava na unidade para dar baixa no registro de MEI que manteve no passado.

A autônoma Eva Alves, 59 anos, também conta que até hoje não teve uma carteira de trabalho com o devido registro e todas as garantias previstas pela legislação trabalhista. "Eu comecei a trabalhar aos sete anos de idade na roça. Já fui atrás desse direito e com a comprovação já organizada, eu vou me aposentar no próximo ano", explica. "A minha irmã também foi a mesma situação e eu, felizmente, dentro desse contexto, até hoje consegui me virar para ter um crediário em uma loja, entre outras questões burocráticas do cotidiano. Eu pago MEI e vou continuar tralhando mesmo quando passar a receber a aposentadoria. Estou cansada, veja as minhas mãos", diz. "Até os 40 era de sol a sol, mas estou bem e sigo no mercado, graças a Deus."

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