Um convênio entre a Prefeitura, a UEL (Universidade Estadual de Londrina) e empresários permitirá a troca de conhecimento e tecnologia com a China, para desenvolvimento, na cidade, de um sistema de trem por levitação eletromagnética. A iniciativa permite até mesmo a implantação do modelo de transporte no município e é parte do Plano de Mobilidade Urbana local, que representantes do Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina) apresentarão às 9 horas deste sábado (26), em audiência pública na sede do Sincoval (Sindicato do Comércio Varejista de Londrina).

Conceito ilustrativo de um metrô de levitação eletromagnética em elevado, aproveitando o canteiro central de uma rodovia de pista dupla, parcialmente coberto de painéis solares
Conceito ilustrativo de um metrô de levitação eletromagnética em elevado, aproveitando o canteiro central de uma rodovia de pista dupla, parcialmente coberto de painéis solares | Foto: Divulgação

O órgão contratou a Logit Engenharia Consultiva para levantamento de dados, obtidos com entrevistas com 20,3 mil habitantes, divididos em 13,7 mil que moravam nos 5 mil domicílios visitados, 6 mil que entram ou saem da cidade e 600 ciclistas. Parte dos números já começaram a ser divulgados, mas o plano completo permitirá produzir um inventário sobre o atual sistema viário de Londrina, com mudanças necessárias em rotas e infraestrutura.

Nesse contexto, o engenheiro ferroviário Eduardo David afirma que Londrina se mostrou uma das três cidades interessadas no transporte de passageiros em trens magnéticos, tanto para análise de viabilidade econômica do sistema como do desenvolvimento da tecnologia embarcada. As outras duas são as cidades fluminenses Petrópolis, em área serrana e de difícil implantação, e Duque de Caxias, que assumiu no lugar de Juiz de Fora (MG). “Londrina foi escolhida pelas características da cidade, que é moderna, com muitas empresas inovadoras e onde houve certa simpatia na Prefeitura pela ideia”, diz.

David buscará fechar um convênio de intercâmbio entre UEL e a Universidade de Changsha, que fica 1,5 mil quilômetros ao sul de Pequim. Engenheiro de transportes há mais de 45 anos, consultor internacional e dono de pós-doutorado no IFW (Instituto da Economia Mundial, na sigla em alemão) da Universidade de Kiel, na Alemanha, o especialista atuará como convidado na parceria já fechada entre Prefeitura e a estadual por cinco anos.

A escolha de Changsha se deve ao desenvolvimento, na universidade local, da tecnologia do trem de levitação eletromagnética de baixa velocidade, que anda em até 120 km/h e opera em duas cidades de lá. O trabalho durou dez anos e foi feito a partir de tecnologia comprada em 2004 pelos chineses dos alemães para o Xangai Transrapid, que chega a 450 km/h e funciona sem problemas há 15 anos. “A tecnologia de levitação supercondutora do Maglev Cobra ainda não está homologada. A tecnologia proposta para Londrina, de levitação eletromagnética, está operacional em Changsha, desde junho de 2016. A questão é apenas de adequação da realidade chinesa para o Brasil, sem necessidade alguma de importar a engenharia civil, que é o maior custo nos projetos de infraestrutura."

Ele ressalta que o projeto será multidisciplinar, com abrangência em engenharias, física, arquitetura, informática, design, urbanismo, psicologia e sociologia, já que a finalidade é atender pessoas. “Estão previstas 100 bolsas para pesquisadores e estudantes da UEL, das quais nove com nível de doutorado, 26 com mestrado e 55 de iniciação científica, todos em tecnologia de levitação magnética”, conta.

NADA GARANTIDO

Autor da primeira patente da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) do projeto Maglev-Cobra depois de pesquisar por 12 anos na Alemanha, David diz que o interesse não representa garantia alguma de que Londrina terá veículos de levitação magnética. Porém, afirma que existe uma importância em criar pesquisa e desenvolvimento nessa área localmente. “Vamos fazer o estudo de viabilidade, com os dados que a Prefeitura coletou e também conseguindo recursos para a UEL, para que exista em Londrina uma nova geração de técnicos de levitação magnética, que é a filosofia de trabalho.”

O estudo deve demorar mais um ano, a partir do lançamento oficial dos dados neste sábado. O engenheiro conta que há interesse nesse tipo de transportes por parte de empresários, tanto que 16 grupos se dispuseram a continuar o estudo em Petrópolis.

Segundo o engenheiro, o custo de implantação varia de 5 a 10% do metrô comum, por ser com veículos menores, mais leves e sem peças como rolamentos, entre outros motivos. Em Petrópolis, a primeira estimativa é de investimento de R$ 40 milhões por quilômetro, em 25 km de via em elevado. “Em São Paulo e no Rio, falam em R$ 600 a 800 milhões por quilômetro”, diz, sobre o modelo comum.

A partir da linha de trens, Petrópolis terá uma frota de 30 ônibus elétricos, comprados, mantidos e abastecidos de energia pela concessionária de trem, mas operados pelas empresas de ônibus da região. A demanda prevista é 80 mil passageiros por dia e a tarifa será compartilhada entre empresários de trens e de ônibus.

Ele aponta para um congresso internacional em outubro do próximo ano, o Maglev 2020, em Changsha, China. “Vamos apresentar um trabalho técnico, em parceria com a UEL, já combinei isso com os professores. Será uma ótima oportunidade para que empresários locais conheçam o sistema em operação e também para que a UEL formalize esse convênio, que vamos começar a trabalhar desde março”, conta David.

Diretor do Ippul aposta em modelo sustentável

O diretor de Projetos do Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina), Luiz Figueira de Mello, afirma que o sistema de trens por levitação eletromagnética, mais leves e baratos do que os tradicionais, também permite o uso de soluções de maior sustentabilidade. “Podemos ter placas solares nos elevados e criar um modelo de mobilidade urbana em que veículos para 24 passageiros operem em horários tranquilos e 15 desses sejam colocados durante o pico de usuários”, diz.

A geração de eletricidade possibilitaria o abastecimento de ônibus, mas não apenas. “Já é um sistema que gasta 70% menos energia do que o transporte tradicional, mas que poderia até mesmo ter uma geração superavitária”, cita.

O prefeito do campus local da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Gilson Bergoc, afirma que o convênio com a prefeitura ainda é muito recente, mas é interessante por permitir o desenvolvimento de uma tecnologia adaptada à realidade local. “Pelas informações que temos, existe muita possibilidade de que seja viável, porque podemos montar de forma a captar recursos, principalmente externos, como nas parcerias com a China, que tem interesse em expandir sua influência para outras partes do mundo”, diz.

Figueira, que também é assessor de assuntos estratégicos da Prefeitura, conta que serão investidos R$ 15 milhões na implantação do centro tecnológico próprio, na UEL. O investimento será o único a usar recursos públicos, estaduais e federais. “Inicialmente, pensamos nessa linha que passe por Londrina e vá de Cambé a Ibiporã, com ônibus elétricos para outras localidades”, cita. (F.G.)