Paraná chega à quarta posição em geração própria de energia
Setor deverá crescer até 15% em 2023; no Estado, avanço da Geração Distribuída deve ser impulsionado pelo agronegócio
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 05 de junho de 2023
Setor deverá crescer até 15% em 2023; no Estado, avanço da Geração Distribuída deve ser impulsionado pelo agronegócio
Simoni Saris - Grupo Folha
Os anos de 2021 e 2022
foram de crescimento extraordinário para o setor de geração própria de energia
no Brasil, também chamada de GD (Geração Distribuída). Em 2021, mesmo com o
país enfrentando a fase mais crítica da pandemia de Covid-19, a potência no sistema
energético nacional cresceu 4 GW (Gigawatts) e, no ano passado, esse número
quase dobrou. Somando-se toda a energia gerada por fontes renováveis em 2022,
não se chega ao que foi produzido pela GD no período.
De maio de 2022 para
maio de 2023, o Brasil aumentou a sua capacidade em geração própria de energia
elétrica em quase 9 GW. No último dia 12 de maio, o país atingiu os 21 GW. Segundo
a ABGD (Associação Brasileira de Geração Distribuída), com essa potência a GD é
capaz de abastecer cerca de 10,5 milhões de residências ou 42 milhões de
pessoas, o que corresponde a quase 20% de toda a população nacional.
O Paraná acompanha esse
crescimento. Em pouco mais de um ano, o Estado dobrou sua capacidade de geração
própria de energia e, no mês passado, tornou-se o quarto estado brasileiro a
superar a marca de 2 GW de capacidade de GD. Resultado que o coloca ao lado de
São Paulo, com 2,8 GW, Minas Gerais (2,7 GW), e Rio Grande do Sul (2,1 GW).
Embora as perspectivas
de expansão para este ano e o próximo sejam mais modestas, o setor de GD espera
fechar 2023 com alta de 10% a 15%. Resultado que terá reflexos positivos na
economia e no consumo. No Paraná, a expansão poderá ser impulsionada pelo
agronegócio.
ENERGIA SOLAR E AGRO
Produtores e
consumidores paranaenses têm na energia solar a principal fonte de geração
própria de energia, com 98,5%. Mas em um estado que tem boa parte de sua força
econômica movida pelo agro, há uma enorme capacidade de ampliação das fontes
empregadas em GD a partir dos resíduos agropecuários, que têm um grande potencial
energético.
“Proporcionalmente, o Paraná é o estado onde o
rural tem maior força e onde os estados são fortes no agronegócio, é possível
aproveitar os resíduos para gerar energia e colocar em GD. É uma boa
oportunidade porque se torna mais eficiente economicamente e sustentavelmente e
tem cada vez mais uma pressão para fazer isso em função do ESG (sigla em inglês
usada para definir as boas práticas das empresas nas áreas ambiental, social e
de governança)”, avaliou o presidente da ABGD, Guilherme Chrispim.
Segundo a entidade, os
sistemas de geração própria de energia estão presentes em todos os 399
municípios paranaenses, sendo Foz do Iguaçu a cidade com maior volume de
potência instalada, de 100,4 MW (Megawatts). Em segundo lugar, está Maringá,
com 93,9 MW, seguida por Londrina, com 74,3 MW.
No Estado, predomina a
classe de consumo residencial, que responde por 734,7 MW. Os estabelecimentos
rurais aparecem em segundo lugar em consumo, com 536,9 MW, seguidos pelas áreas
comercial (505,2 MW) e industrial (191 MW).
CRISE
Há dois anos, o país
enfrentou uma grave crise energética decorrente da pior crise hídrica vivida em
quase cem anos e que trouxe a ameaça de racionamento no fornecimento de
eletricidade aos brasileiros. O racionamento não se concretizou, mas a
população não escapou dos aumentos dos custos com energia causados pela
aplicação das bandeiras tarifárias.
E a forte dependência das usinas
hidrelétricas que torna a população refém do clima acirrou os debates sobre a
necessidade e urgência de readequação no sistema, trazendo para o centro das discussões
temas como eficiência energética e formas de se garantir uma maior
sustentabilidade para o setor.
Nesse contexto, a GD (Geração Distribuída) ganha destaque dentro do sistema elétrico nacional por se tratar de energia
limpa e renovável e que tem como principal fonte a energia solar, recurso
abundante no país. Hoje, a energia solar representa 98,7% do total em GD.
Guilherme Chrispim, presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída, destaca uma série de fatores que explicam a relevância conquistada pela geração própria de energia no país. Dentro da perspectiva econômica, ele cita o próprio crescimento do mercado que saltou de menos de duas mil empresas integradoras em 2017 para mais de 30 mil atualmente. Na geração de emprego, o impacto da GD é de 500 mil postos de trabalho.
FACILIDADE NA INSTALAÇÃO
Sob o ponto de vista
energético, a facilidade na instalação de sistemas em residências, empresas e
indústrias favoreceu o setor e gerou um impacto econômico muito positivo.
“Dependendo da característica da ligação, você pode sair de uma fatura de R$
500 para R$ 100 ou R$ 80. É bem representativo, principalmente para as famílias
de baixa renda”, destacou Chrispim.
O presidente da ABGD
ressaltou ainda que mesmo os consumidores que não têm GD são beneficiados
porque quanto maior o número de pessoas utilizando a geração própria de
energia, menor é a possibilidade de acionamento das usinas termelétricas,
reduzindo os custos para todos os usuários do sistema, diminuindo o impacto
ambiental e evitando os riscos de racionamento.
“Outro ponto que vale
destacar na economia que a GD gera ao setor elétrico como um todo é a redução
do custo com a perda técnica, embutido no preço da nossa conta de luz”, disse
Chrispim. No caminho percorrido entre a usina hidrelétrica e a unidade
consumidora, é normal que ocorra perda de 10% a 15% da eletricidade produzida.
Na GD, essa perda não acontece porque a unidade consumidora está próxima da
fonte geradora de energia.
JANELA DE OPORTUNIDADE
Permitir que o usuário
produza a sua própria energia, seja com a instalação de uma placa solar no
telhado ou por meio de cooperativas, e a oferta de subsídios pelo governo
garantida pela aprovação da Lei 14.300/2022, que instituiu o marco legal da
microgeração e minigeração distribuída, tiveram forte apelo junto aos
consumidores. Soma-se a isso, o aumento da credibilidade do sistema, apontou
Roberto Corrêa, presidente da Cogecom, cooperativa paranaense de energia
compartilhada. “A confiabilidade aliada à janela de oportunidade fez o mercado
dar um salto muito além da estimativa da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).”
A Cogecom é uma das
empresas que surfa na onda do avanço da geração distribuída. No primeiro
trimestre de 2023, a energia total comercializada cresceu 75% sobre igual período
do ano anterior e contabiliza 30 mil unidades consumidoras nos oito estados
onde atua. A expectativa é ampliar para 60 mil unidades consumidoras até
dezembro, chegando a mais quatro estados.
“A velocidade com que é
possível implantar uma usina solar faz com que seja rápida e fácil a adoção da
tecnologia. Os custos caíram drasticamente nos últimos dez anos, de quando o
mercado foi iniciado com a normativa 482 aqui no Brasil, e essa queda de custo,
o aumento das contas de energia e a instabilidade do setor energético
contribuíram para o crescimento rápido de geração distribuída no país”, avaliou
o CEO do Grupo Bonö Energia, Marcelo Abuhamad.
PRESSÃO POR ENERGIA RENOVÁVEL
O presidente da ABGD (Associação Brasileira de Geração Distribuída), Guilherme Chrispim, chama de “tsunami positivo” os resultados da GD nos dois últimos anos, mas olha com cautela para o futuro e fala em “acomodação”, o que não significa um desaquecimento do mercado. “Não é possível continuar crescendo nos números que estamos crescendo”, analisou. “Tivemos dois anos de crescimento em percentuais que não vão se repetir. Vamos agora entrar em um período de normalidade. O ano de 2023 ainda reflete a corrida ao sol de 2022 e 2024 será um ano de crescimento normal. Em valores absolutos, estou fazendo uma aposta de que a gente cresce 10% a 15% neste ano ante 2022, o que já é muito bom.” Chrispim calcula alta de 8 GW a 10 GW ao ano, impulsionada pela pressão por energia renovável e sustentável e o fortalecimento do ESG nas empresas.
Mais otimista nas previsões de mercado, o presidente da Cogecom, Roberto Corrêa, aposta em uma continuidade do bom momento por mais cinco anos. “Nos mercados onde a energia é mais cara, a curva (de crescimento) é mais acelerada e, em outros, mais lenta. Mas no contexto geral, nacional, temos hoje uma ascendência da curva daqueles que seguem os inovadores e deve durar mais uns cinco anos até que pense em ter uma mudança no cenário. O crescimento começa a ‘deitar’ com mais de 50% do mercado de adesão”, afirmou.
A maturidade do Brasil em relação à tecnologia fotovoltaica significa um grande avanço tanto para a matriz energética quanto para a adoção de uma matriz ainda mais limpa, com uma fonte de fácil implantação, ressaltou o CEO do Grupo Bonö Energia, Marcelo Abuhamad. Como resultado desse amadurecimento, além da manutenção do crescimento acelerado da GD, o país também deverá ver a expansão da aplicação de usinas para alta produção com o início da abertura do Mercado Livre de Energia, em 2024, e também da adoção de linhas de produção cada vez mais eficientes e automatizadas. “A matriz de GD e de energia solar está muito conectada a todo o desenvolvimento da cadeia de energia e de logística como um todo. É um mercado que vai continuar crescendo e tende a exponencializar ainda mais dentro dos próximos anos.”