Londrina encerrou os cinco primeiros meses de 2024 com saldo positivo na balança comercial. De janeiro a maio, as exportações cresceram 24,7% na comparação com igual período do ano anterior e se aproximaram dos US$ 360 milhões, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. No mesmo intervalo, as importações caíram mais de 17%. O superávit de quase US$ 160 milhões foi puxado pelo agronegócio, especialmente a soja, responsável por quase 50% de todo o volume vendido aos países estrangeiros pelo município.

O resultado é comemorado pelo setor agrícola. O presidente da SRP (Sociedade Rural do Paraná), Marcelo El-Kadre, destacou o "papel crucial" desempenhado pelo agronegócio nas economias regional e estadual. "A demanda global por soja continua a impulsionar as exportações do grão, que representa quase 50% das exportações. O trigo também vem aumentando sua participação, graças a um esforço para aumentar a produção e áreas destinadas ao seu cultivo e, consequentemente, suas exportações."

Apesar da prevalência da soja na balança comercial, El-Kadre ressaltou a diversificação crescente dos itens comercializados no exterior. "Enquanto desafios como condições climáticas adversas e infraestrutura logística persistem, as oportunidades de inovação tecnológica e expansão de mercados tendem a fortalecer ainda mais a posição da cidade e do Estado no agronegócio global."

Mas o saldo positivo da balança nem sempre significa uma melhora na economia local, afirmou o economista Marcos Rambalducci. Quando a análise se volta para a geração de riquezas ao município, salientou ele, é preciso considerar o que, de fato, foi produzido internamente entre tudo o que foi exportado. Se o maior volume de exportação vem dos produtos agropecuários, cuja produção foi realizada fora da cidade, significa que a comercialização foi feita por uma empresa da cidade, mas na maioria das vezes, a mercadoria exportada nem chegou a passar pelo município e, assim, não agregou valor.

A mesma lógica, disse Rambalducci, pode ser utilizada para avaliar as importações. “Se o que foi comprado é para ser utilizado pelas empresas locais, especialmente insumos e bens de capital (máquinas e ferramentas) que serão usados na manufatura de outros produtos, isso é muito interessante. Se foi adquirido para ser vendido para fora da cidade, perde muito de seu potencial de agregação para a economia local”, ressaltou.

A balança comercial de Londrina atravessou um período turbulento nos últimos anos. De 2019 a 2022, houve déficit, com o volume de importações ultrapassando as exportações. Em 2023, pela primeira vez em cinco anos, foi registrado saldo positivo. A recuperação nas vendas externas resultou em alta de 236,8% sobre o ano anterior enquanto as importações recuaram quase 50%. Assim, o superávit no ano passado foi de US$ 558,53 milhões.

Essa tendência de alta nas exportações se mantém em 2024. De janeiro a maio, o município aumentou em 24,7% as exportações ante igual intervalo em 2023, e chegou a US$ 359,8 milhões. No mesmo período, as importações somaram US$ 201,71 milhões, uma queda de 17,4% em relação aos cinco primeiros meses de 2023. Até aqui, a balança comercial de Londrina acumula superávit de US$ 158,09 milhões.

Rambalducci destacou que toda a produção agropecuária de Londrina não ultrapassa 2,6% do PIB (Produto Interno Bruto) local. As vendas externas de soja, milho, trigo e açúcar representam em torno de 70% da pauta de exportações municipais, sendo pouco relevantes para a economia londrinense. “Não foi produzido aqui e quase certamente, nem chegou a passar pela cidade. É somente uma operação comercial realizada por uma empresa com CNPJ local”, disse o economista.

Os dados da Secex mostram um crescimento das exportações dessas commodities ao passo que os produtos da indústria da transformação, que teriam maior valor agregado, estão abaixo do ano anterior, na comparação por período. De janeiro a maio de 2024, as exportações londrinenses feitas pelo setor da indústria da transformação registraram uma receita de US$ 115 milhões, queda de 13,1% ante o mesmo período do ano anterior. “Situação semelhante acontece com as importações. Bens de capital e bens provenientes de produção industrial recuaram no período”, ressaltou o economista. "Embora os números possam dar uma sinalização positiva, pois aumentamos o saldo da balança comercial, uma análise mais apurada do que exportamos e do que importamos não reflete uma situação econômica melhor para Londrina", concluiu.

Ranking estadual

No ranking estadual, o município detém uma participação de 3,4% nas exportações totais do Paraná e de 2,8%, nas importações, ocupando o sexto lugar, tanto nas vendas quanto nas compras do mercado externo. No Brasil, Londrina é a 81ª cidade em exportações e a 105ª em importações.

Entre os produtos comercializados com os países estrangeiros, a soja lidera, com US$ 166 milhões vendidos, o que corresponde a 46% do total exportado. Extratos, essências e concentrados de café, chá ou mate somaram US$ 66,4 milhões, o equivalente a 18%, seguido do trigo, que respondeu por 11% das exportações ou US$ 40,0 milhões. No recorte dos itens enviados ao exterior, o milho perdeu participação de um ano para outro, caindo de 22% para 9,4%. Em valores, as vendas do cereal ficaram em US$ 33,9 milhões. Resultado que pode ser explicado pela quebra de safra provocada pela estiagem. "No caso do milho, apesar da queda nas exportações, ele continua a ser um produto significativo. Podemos atribuir a diminuição a fatores climáticos e também à demanda interna", explicou o presidente da SRP.

O principal destino dos produtos brasileiros foi a China, responsável por 44% das exportações londrinenses. As vendas ao país asiático totalizaram, de janeiro a maio, US$ 160 milhões. Em seguida, estão Irã, com US$ 22,1 milhões (6,1%), e Vietnã, com US$ 17,1 milhões (4,7%).

Nas importações, destacaram-se os inseticidas, rodenticidas, fungicidas e herbicidas, com 39%, o equivalente a US$ 79,2 milhões, seguidos dos compostos heterocíclicos, exclusivamente hetero-átomo de azoto, com 13%, somando US$ 26,5 milhões, e em terceiro lugar, partes de máquinas e aparelhos, com uma participação de 8,2% ou US$ 16,5 milhões.

Assim como a China é quem mais compra dos produtores londrinenses, a maior parte das importações feitas no município também tem como origem o país asiático, que responde por US$ 125 milhões em importações, o que representa uma fatia de 62%. Os Estados Unidos estão em segundo lugar nas vendas ao mercado local, com US$ 20,8 milhões (10%) e, em terceiro, Israel, com US$ 17,7 milhões (8,8%).

Paraná

As exportações paranaenses somaram US$ 9,52 bilhões entre janeiro a maio de 2024, consolidando o Estado como o maior exportador da Região Sul. O Paraná superou Santa Catarina, com vendas externas de US$ 4,59 bilhões, e Rio Grande do Sul, que registrou receitas da ordem de US$ 7,44 bilhões, segundo levantamento da Secex tabulados pelo Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social).

Na pauta das mercadorias exportadas pelo Paraná, o destaque ficou com a soja em grão, responsável por vendas de US$ 2,4 bilhões, o que representa um quarto das exportações nos cinco primeiros meses do ano. A carne de frango in natura também teve uma boa participação, envolvendo negócios de US$ 1,51 bilhão, e o farelo de soja, com exportações de US$ 646 milhões.

Além dos produtos do agronegócio, também foram relevantes as vendas ao mercado internacional de produtos manufaturados de alto valor agregado, como os óleos e combustíveis, com receitas de US$ 191 milhões, e os automóveis, cujas exportações totalizaram US$ 172 milhões no período, o que evidencia a diversificação da estrutura produtiva local.

A China segue como principal destino dos bens produzidos no Estado. O país asiático absorveu 27% das vendas paranaenses ao exterior, totalizando US$ 2,57 bilhões no período. Os EUA vêm na sequência, com aquisições equivalentes a 6,4% do total (US$ 608,6 milhões), e logo abaixo, o México, destino de 4,3% das exportações do Paraná (US$ 404,88 milhões).

Com esses resultados, a balança comercial do Paraná fechou em alta no período, com superávit comercial de US$ 2,2 bilhões, resultado da diferença entre os US$ 9,52 bilhões de receita de exportações e dos US$ 7,3 bilhões das importações estaduais. “Ao registrar exportações muito superiores às importações, o Paraná reforça a solvência do país em moeda estrangeira, colaborando para a estabilidade macroeconômica”, afirmou o diretor-presidente do Ipardes, Jorge Callado.(Com AEN)