Longe de sugerir uma negação dos afetos dolorosos que existem na vida, a abordagem psicanalítica reconhece a coexistência de emoções diversas e contraditórias no interior de todos nós. Tomemos o exemplo de alguém que busca ajuda psicoterapêutica em meio a um turbilhão emocional desencadeado pelo fim de um relacionamento significativo.

A pessoa chega ao consultório inundada por uma mistura de tristeza, raiva e confusão. Sente-se perdida, incapaz de enxergar além da dor que a consome. No entanto, ao longo do processo psicoterapêutico que pode ser desenvolvido, emerge um insight revelador: a percepção de que, mesmo nos momentos mais sombrios, há espaço para algo bom ser reconhecido ou até visto pela primeira vez. Aprende-se a acolher e valorizar a alegria fugaz que surge nos intervalos da angústia, reconhecendo que a dor e o prazer podem coexistir em sua experiência emocional ao mesmo tempo. O que antes parecia tudo apenas sem luz, cor e sabor abre espaço para alguma coisa valiosa.

Assim como essa pessoa hipotética acima, muitos indivíduos encontram-se imersos em um mar de emoções conflitantes, buscando desesperadamente um porto seguro ou um escape. Entrar num processo psicoterapêutico para essas pessoas não se trata de negar a realidade dolorosa, nem de buscar distrações, mas sim de expandir a percepção para além do sofrimento imediato. É um convite para direcionar o olhar para as pequenas sementes de esperança que brotam mesmo nos terrenos mais áridos da mente.

À medida que o processo psicoterapêutico avança, o paciente é convidado a cultivar uma nova relação consigo mesmo e com o mundo ao seu redor. Assim, um novo estado de espírito ou mente pode ser desenvolvido, sendo não apenas um estado de espírito passageiro, mas sim uma atitude mais firme e perene diante da vida, uma disposição para reconhecer as coisas boas que juntamente com as mais difíceis também existem.

Desenvolver uma mente não significa descartar a tristeza, a raiva, o medo ou a confusão. Em vez disso, oferece-nos a oportunidade de ver que muitas vezes experimentamos vários sentimentos ao mesmo tempo; acolher a alegria nos mesmos lugares onde guardamos a dor; voltar nossa atenção para o que cresce silenciosamente e respira dia após dia, o que, para nossa possível surpresa, inclui nós mesmos.

Criar uma mente refere-se ao processo pelo qual o indivíduo constrói sua identidade psíquica ao longo da vida, a partir das experiências vivenciadas desde a infância até a idade adulta. Essas experiências moldam a maneira como o sujeito percebe a si mesmo, aos outros e ao mundo ao seu redor.

Muitos acreditam, erroneamente, que uma mente minimamente desenvolvida se trata de não sentir emoções e sentimentos difíceis ou visto como negativos, supera-los como se eles nada fossem, mas isso não é verdade. Implica em poder pensar sobre as coisas que nos acontecem e decidir como vamos viver daqui para frente. Parece muito simples, e o é, mas as coisas mais simples é que são as mais desafiadoras.

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