A vida, em sua essência, é um processo dinâmico, uma dança contínua entre desintegração e reintegração. Este movimento incessante exige de nós uma disposição para a tolerância às frustrações, um desenvolvimento da paciência e uma maturidade emocional que nos permita navegar pelas águas turbulentas da mudança. O crescimento, portanto, não é uma linha reta; ele se manifesta através de oscilações, avanços e recuos que nos convidam a um engajamento constante com o desconhecido.

Dentro do processo psicanalítico, essas dinâmicas de transformação e resistência se fazem particularmente evidentes. O par analítico, constituído pelo analista e pelo paciente, muitas vezes se encontra diante de movimentos que evocam medos profundos de mudança. A mudança, com sua promessa de novidade e perturbação, pode ser experimentada como uma ameaça ao status quo. Ambos, analista e paciente, podem se ver tentados a refugiar-se na rigidez de padrões conhecidos, evitando assim a angústia do novo.

Para o analista, há uma tendência a proteger-se através da teoria, utilizando interpretações que se encaixam confortavelmente em moldes preestabelecidos. Esta abordagem pode fornecer uma sensação ilusória de controle e previsibilidade, ao mesmo tempo que impede a verdadeira transformação que surge do contato genuíno com a experiência do paciente. Ao manter-se rigidamente preso ao conhecido, o analista não só evita suas próprias ansiedades, mas também falha em oferecer ao paciente a oportunidade de explorar novas maneiras de ser e de perceber a si mesmo.

Do lado do paciente, a resistência pode manifestar-se como uma relutância em se envolver plenamente no processo terapêutico. Medo de confrontar aspectos dolorosos de sua mente, de revisitar traumas passados ou de enfrentar a possibilidade de mudança real, pode levar o paciente a uma postura de defesa, escondendo-se atrás de narrativas superficiais ou atitudes conformistas. Esse mecanismo de proteção, embora compreensível, perpetua um estado de paralisia, onde o verdadeiro crescimento é impedido.

Assim, estabelece-se um conluio não verbal entre analista e paciente. Ambos, em sua aversão ao risco e ao desconhecido, mantêm-se numa posição estática, evitando as turbulências que são essenciais para a transformação. Este conluio não promove o crescimento; ao contrário, cristaliza a estagnação. A dinâmica analítica, então, transforma-se num espaço de proteção mútua contra a mudança, onde a potencialidade de vida e movimento é sacrificada em prol de uma estabilidade ilusória.

Reconhecer este conluio é o primeiro passo para romper com este ciclo de paralisia. O analista deve cultivar uma disposição para a própria vulnerabilidade, permitindo-se ser afetado pelas nuances e complexidades da experiência do paciente. Deve estar disposto a abandonar as seguranças teóricas em favor de uma escuta atenta e ativa, que acolhe o novo e o incerto. O paciente, por sua vez, precisa encontrar coragem para se expor verdadeiramente, para entrar em contato com suas partes mais ocultas e dolorosas, permitindo que o processo analítico opere sua magia transformadora.

A vida em sua plenitude se desenrola na aceitação dessas oscilações. O movimento é vida; e é através das turbulências e das mudanças que crescemos e nos tornamos mais inteiros. O processo analítico, quando verdadeiramente vivo e dinâmico, reflete essa realidade, proporcionando um espaço onde o crescimento não só é possível, mas inevitável

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