Setembro Amarelo é uma campanha que nos convida a refletir sobre o suicídio, uma questão profundamente dolorosa que toca o âmago do sofrimento humano. No Brasil, os dados são alarmantes: segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 14 mil pessoas tiram suas próprias vidas anualmente, uma média de 38 suicídios por dia. Esse número torna o suicídio a terceira maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no país, revelando um problema de saúde pública que demanda atenção urgente.

Na psicanálise, o suicídio pode ser compreendido como um ato último de desespero, onde o indivíduo, incapaz de encontrar um espaço psíquico para elaborar suas angústias, recorre ao fim da própria existência como uma forma de silenciar o sofrimento. Trata-se de uma ruptura radical, um colapso no processo de simbolização, onde o aparelho psíquico falha em sustentar a dor da pessoa.

Freud, em seus estudos, apontou para a relação entre o ato suicida e os impulsos agressivos voltados para dentro, para o próprio eu. Essa agressividade, inicialmente dirigida ao outro ou ao mundo externo, é internalizada, transformando-se em uma autodestrutividade que busca eliminar a fonte da dor: o próprio sujeito. No entanto, é importante reconhecer que o suicídio não é meramente um ato de destruição, mas também pode ser visto como um grito silencioso de uma sociedade que precisa de ajuda, uma tentativa desesperada de comunicar o que as palavras não conseguem expressar.

Os sintomas que precedem o suicídio, como a depressão, a desesperança e o isolamento, são sinais de que algo não vai bem. A incapacidade de transformar o sofrimento em palavras, de dar um sentido à angústia, culmina no ato suicida como uma última tentativa de resolver o conflito interno. A psicanálise oferece uma via de escuta, onde o paciente pode encontrar um espaço seguro para trazer à tona seus impulsos e angústias, permitindo que esses conteúdos sejam trabalhados e transformados.

O Setembro Amarelo nos convida a não apenas aumentar a conscientização sobre o suicídio, mas também a refletir sobre o papel que cada um de nós pode desempenhar na construção de um ambiente onde o sofrimento possa ser escutado e compreendido. O suicídio é muitas vezes o desfecho de um processo longo e doloroso de isolamento e desamparo, onde a pessoa sente que não há mais saídas possíveis.

Neste mês, somos chamados a abrir espaços de escuta, a oferecer empatia e compreensão, para que aqueles que estão em sofrimento possam encontrar uma alternativa. A escuta psicanalítica, nesse contexto, é vital: ela não busca julgamentos ou soluções rápidas, mas sim, acompanha o sujeito em sua jornada de reconstrução, de ressignificação do seu sofrimento, para que a vida, mesmo em meio à dor, possa ser vista como uma possibilidade de transformação e não como uma sentença.

O suicídio ainda é um tabu, precisamos romper com o silêncio que cerca o tema e promover diálogos abertos. Cada vida perdida para o suicídio é uma tragédia que poderia, talvez, ter sido evitada se o sofrimento tivesse encontrado uma via de expressão, de reconhecimento, de transformação. Setembro Amarelo nos lembra de que essa luta é coletiva, e que, ao estender a mão para aqueles que sofrem, estamos, em última instância, fortalecendo todos nós.

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