Nossa mente, diante das dores inevitáveis da existência, frequentemente busca formas de se proteger, e uma das estratégias mais comuns é a fragmentação. Essa fragmentação pode se manifestar de várias maneiras: a mente pode se enrijecer, criando barreiras impenetráveis como uma forma de sobrevivência. Em vez de se permitir ser tocado pelas experiências da vida, ela se torna impermeável, resistente às influências externas e internas. Essa rigidez, que inicialmente serve como uma defesa contra a vulnerabilidade, pode, paradoxalmente, isolar o indivíduo de sua própria capacidade de aprender e crescer a partir das experiências. Assim, como uma forma de evitar o sentimento de insegurança e desamparo, a pessoa pode adotar uma postura de quem sabe tudo, mostrando-se sempre arrogante, aparentando ter respostas para tudo. Essa postura muitas vezes é acompanhada de uma atitude superior, onde o conhecimento é usado como uma arma para evitar o contato com sua própria fragilidade.

Existem inúmeras outras formas pelas quais o indivíduo pode tentar fugir da dor. Alguns recorrem ao uso de medicamentos, não necessariamente para tratar uma patologia, mas como uma forma de anestesiar sentimentos incômodos. Outros optam por se isolar, evitando o contato social e sabotando os vínculos afetivos, sejam de amor ou amizade. A dor e a tristeza, embora partes integrantes da condição humana, são evitadas a todo custo, numa tentativa desesperada de manter a ilusão de controle e invulnerabilidade. A verdade é que tememos a nossa humanidade.

Contudo, para que possamos verdadeiramente pensar, aprender e nos desenvolver, é essencial que nos permitamos ser tocados pelas experiências (pela vida), sejam elas prazerosas ou dolorosas. Isso exige empatia, não só em relação aos outros, mas também para conosco mesmos. Precisamos respeitar nossos sentimentos, com todas as suas nuances, e cultivar a tolerância para com as vivências dolorosas. Se não formos capazes de acolher nossa própria singularidade e nos aproximar dos aspectos fragmentados de nosso ser, corremos o risco de nos refugiar em dogmas rígidos e crenças inflexíveis. A postura de uma pessoa que ‘sabe tudo’ é, muitas vezes, uma fuga do sofrimento que a incerteza traz. Quando nos refugiamos no conhecimento absoluto, negamos o espaço para a dúvida, o desconhecimento e a incompreensão, elementos fundamentais para o crescimento psíquico.

Neste ponto, é valioso refletir sobre a importância do desenvolvimento emocional para lidar com a complexidade do saber e do não saber. Quanto mais sabemos, mais percebemos o quanto somos ignorantes. Essa constatação não deveria ser motivo de desespero, mas sim de humildade. Aceitar nossas limitações é um ato de maturidade psíquica. A abertura para o novo, para o desconhecido, exige coragem para enfrentar nossas fraturas internas, aquelas partes de nós mesmos que preferimos ignorar ou negar.

Precisamos reconhecer que, em nossa fragilidade, reside também a nossa humanidade. Somente quando aceitamos essa verdade podemos realmente nos conectar com os outros e, mais importante, conosco mesmos, integrando as partes fragmentadas e permitindo que nossa mente evolua para além das defesas que construímos para nos proteger.

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