Carl Sagan, astrônomo americano, disse que: “Saber muito não lhe torna inteligente. A inteligência se traduz na forma como você recolhe, julga, maneja e aplica as informações”. A reflexão de Carl Sagan sobre a distinção entre o saber e a inteligência oferece uma perspectiva rica para a psicanálise contribuir também. Este pensamento nos convida a considerar como os processos inconscientes influenciam a maneira pela qual indivíduos lidam com o conhecimento e o transformam em sabedoria.

Saber muito, no sentido de acumular informações, é uma capacidade que todos possuem em maior ou menor grau. No entanto, a psicanálise nos ensina que a inteligência, enquanto expressão da mente humana, vai além da simples retenção de dados. A inteligência se manifesta na habilidade de integrar e transformar informações de forma criativa e adaptativa, processo que está intrinsecamente ligado às dinâmicas do inconsciente. É através da complexa interação entre consciente e inconsciente que o indivíduo pode transcender o conhecimento superficial e alcançar um entendimento mais profundo e funcional da realidade de si próprio.

A forma como julgamos e manejamos as informações é profundamente influenciada pelos nossos conflitos internos, traumas e desejos inconscientes. O julgamento adequado exige uma mente capaz de equilibrar o princípio de realidade com o princípio do prazer, uma tarefa que muitas vezes é complicada por nossas fantasias e defesas. Manejar as informações de maneira inteligente implica em reconhecer e trabalhar com as próprias limitações, resistências e predisposições que podem distorcer nossa percepção e interpretação dos dados. Em outras palavras, podemos meter os pés pelas mãos.

Aplicar e viver as informações de forma eficaz é onde a verdadeira inteligência se torna mais visível. Este processo exige não apenas a integração cognitiva, mas também a capacidade de sublimação – a transformação dos impulsos primários em ações e pensamentos que contribuem para o bem-estar e evolução. A sublimação é um mecanismo essencial que permite ao indivíduo usar seu potencial criativo para resolver problemas, inovar e adaptar-se a novas situações de maneira construtiva.

A verdadeira inteligência, portanto, está intimamente ligada ao quanto nos aproximamos de nossos conteúdos internos e à capacidade de introspecção e tolerância ao que sentimos. A psicanálise nos proporciona ferramentas para explorar as profundezas da nossa mente, revelando os motivos ocultos que guiam nossas ações e decisões. Este conhecimento de si mesmo é fundamental para julgar, manejar e aplicar as informações de forma inteligente. A consciência dos nossos processos internos permite uma maior flexibilidade e adaptabilidade, capacitando-nos a utilizar o conhecimento de maneira mais eficaz e significativa.

A inteligência, conforme delineada pela perspectiva psicanalítica e ecoada no pensamento de Carl Sagan, não reside na mera acumulação de informações, mas na capacidade de transformar esse saber em algo útil e significativo. É a habilidade de navegar pelas complexidades da mente que todos possuímos, mas tão pouco conhecemos, integrar experiências e aplicar o conhecimento de forma criativa e adaptativa que define a verdadeira inteligência ou sabedoria.

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