Recentemente vi um relato na internet de uma moça que ao pegar um Uber ficou impressionada com a capacidade do motorista de não se permitir tirar do seu eixo. Um motoqueiro descuidado chutou o espelho retrovisor do carro do motorista e seguiu caminho como se a rua fosse só dele e só ele tivesse pressa enquanto os demais eram apenas obstáculos. Uma situação dessa faria muita gente praguejar, querer se vingar e brigar, mas segundo o relato da passageira, o motorista apenas arrumou o espelho retrovisor do seu carro para a posição correta e disse “Que Deus dê a esse sujeito um bom dia porque o meu ele não vai estraga, não!”

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. | Foto: iStock

A resposta desse motorista foi de se admirar. Ele respondeu à situação e não reagiu. Reação é algo imediato, algo sem consideração alguma e tomado no calor do momento, muitas vezes com resultados trágicos. Reação vem da impulsividade. Responder, por outro lado, é algo que passa primeiro pelo crivo da mente e é considerado antes de se tomar uma ação. Responder demanda mente e por isso mesmo é muito mais inteligente. Estão faltando pessoas que possam responder nesse mundo e não reagir.

A reação só se justifica quando se trata de algo urgente, de vida e morte. Se sentimos nossa mão queimar não temos o que pensar, mas precisamos reagir logo removendo a mão do que queima. É uma questão até biológica. A reação está muito ligada à sobrevivência do corpo e tem que ser imediata.

Contudo, não dá para vivermos a vida só reagindo apenas. Se for assim, ficamos entregues a ações impulsivas e meteremos os pés pelas mãos frequentemente. Quem mandará em nossas vidas não será nossa capacidade de pensar, de avaliar, mas apenas as reações automáticas e involuntárias. O pensamento, nesses casos, fica impossibilitado, não havendo espaço para ele.

Ser adulto implica em desenvolver uma mente que possa dar respostas e não somente produzir reações. O motorista do exemplo acima mostrou-se, naquela situação, muito maduro pois ele usou a própria mente para pensar sobre o ocorrido. Não ficou submetido à sua impulsividade, porém pôde usar sua mente para lidar com o acontecido e com suas emoções. Ele não saiu de seu eixo, ou seja, não permitiu que alguém externo decidisse como seria seu dia. Ele conseguiu se manter consigo mesmo e decidiu o que era o melhor para si. Se o dia dele foi bom não foi por acaso, mas devido à sua decisão de não deixar algo externo determinar como iria ser daqui para a frente.

Ao contrário desse motorista, o motoqueiro foi alguém aprisionado nas suas paixões e emoções. Se há algo na frente ele chuta longe, sem nenhuma outra consideração, sem perceber que o outro existe e não só ele. O motoqueiro desse exemplo não suporta o outro, não tolera tudo aquilo que é o não-eu. Já dizia o filósofo francês Sartre “O inferno são os outros”. O inferno é quando não podemos usar nossas mentes e deixamos que tudo aquilo que é externo defina como vamos viver.

Não é à toa que a passageira se admirou desse motorista. Estão faltando pessoas assim no mundo. Está faltando desenvolvermos a nossa mente.

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A opinião do colunista não é, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina

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