A frase do psicanalista Wilfred Bion: "Uma análise bem sucedida pode diminuir o sofrimento do paciente, mas o intuito da análise é aumentar a capacidade do paciente para sofrer", é uma reflexão profunda sobre a natureza do trabalho analítico e a transformação que ele busca promover. À primeira vista, pode parecer paradoxal que a psicanálise, frequentemente associada ao alívio do sofrimento psíquico, tenha como objetivo aumentar a capacidade para lidar com o sofrimento. No entanto, essa aparente contradição revela um aspecto central de como funciona de fato a psicanálise.

O sofrimento, em seu sentido mais amplo, é uma parte inevitável da condição humana. A vida é permeada por perdas, frustrações e confrontos com os limites da existência. Freud, em suas investigações sobre a mente, já havia apontado que a busca pela ‘felicidade’ está constantemente em tensão com as forças do mundo externo e com os conflitos internos. Nesse contexto, o sofrimento não é apenas um mal a ser erradicado, mas também um terreno fértil para o crescimento e para a construção da subjetividade, bem como da possibilidade de se transformar verdadeiramente em humano.

O que Bion sugere é que a psicanálise não visa simplesmente livrar o paciente de suas dores, mas capacitá-lo a suportá-las de maneira diferente. Em outras palavras, trata-se de transformar a relação do indivíduo com o seu sofrimento, possibilitando que ele se aproxime de suas próprias angústias com mais tolerância e menos custo. A análise bem-sucedida, portanto, não elimina a dor, mas fortalece o sujeito para enfrentá-la de maneira digna.

Esse fortalecimento passa, necessariamente, pela capacidade de suportar o contato com aspectos difíceis de si mesmo, que muitas vezes se expressam através de sintomas, impulsos ou sentimentos dolorosos. O paciente, ao longo da análise, é convidado a confrontar o que antes era evitado ou recalcado. Esse processo de enfrentamento pode ser doloroso, mas é também libertador, pois permite a transformação e a integração de partes dissociadas que carregamos na nossa vida mental.

A capacidade para sofrer, nesse sentido, não é um sinal de fraqueza, mas de força. A pessoa que desenvolve essa capacidade não é aquela que se resigna passivamente ao sofrimento, mas aquela que pode enfrentá-lo sem ser destruído por ele. Esse enfrentamento, por sua vez, abre espaço para uma vida mais autêntica e plena, onde o sujeito pode se envolver com as dificuldades inerentes à vida.

A psicanálise, então, se coloca como uma via para a evolução, onde o sofrimento não é negado ou minimizado, mas transformado em uma fonte de potencial e crescimento. O trabalho analítico busca não apenas a redução dos sintomas, mas a ampliação da capacidade do sujeito para lidar com os conflitos que todos experimentamos e que podem nos adoecer. Ao aumentar essa capacidade, a análise contribui para o florescimento da vida.

Assim, a frase de Bion nos lembra que a verdadeira cura não está na eliminação do sofrimento, mas na capacidade de viver com ele, de forma que ele não nos domine, mas nos enriqueça, permitindo-nos melhorar e evoluir em todos os aspectos de nossa existência.