O retrato parece tirado de uma paisagem bucólica de alguma zona rural europeia, harmonizando o contraste entre as videias e as oliveiras, com o céu azul de fundo. Mas, o cenário está bem distante do Velho Mundo. Faz parte da Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais, onde o encontro entre lendas, histórias e experiências são um convite farto à gastronomia, à degustação e, quem sabe, ao luar. Estou me referindo à Fazenda Serra que Chora, nas Terras Altas da Mantiqueira, distante quatro quilômetros da cidade de Itanhandu.

A propriedade já foi terra do cultivo de café e cana-de-açúcar, que hoje deram lugar à plantação de uva e de azeitona, que proporcionam vinhos e azeites da maior qualidade. De modo especial, o Vinho Amantikir e o Azeite Serra que Chora. A visita à fazenda também proporciona, além de uma experiência nas plantações, uma degustação do almoço e, para quem tiver um tempo, pernoitar na pousada. Durante a Expedição Mantiqueira, organizada pelo amigo Filipe de Castro, quem nos recebeu foi a Manu, uma das filhas do proprietário, Manoel Costa.

Além das explicações técnicas sobre as videiras e as oliveiras, Manu é uma excelente contadora de histórias e nos envolve na narrativa da lenda indígena do Amatikir, que significa Serra que Chora. Ao escutar os detalhes da princesa que se apaixonou pelo Sol, dá vontade de sentar ali, no pé dos parreirais e olivais, abrir um vinho, mergulhar o azeite no pão e simplesmente contemplar a serra que nos rodeia. Eu não me atrevo a dar spoiler nem tentar repetir a narrativa, que recomendo fortemente ser ouvida da própria Manu, na própria fazenda.

O vinho Amatikir é uma grata surpresa, principalmente porque sua técnica de produção tem se popularizado nas serras de Minas Gerais: a poda invertida. Ou seja, as uvas são colhidas no inverno e não na tradicional época da vindima, simplesmente porque o clima mineiro é diferente do que se encontra no Rio Grande do Sul, por exemplo. Degustei e comprei o Syrah da safra 2023, única disponível para venda. Mas, depois de ouvir as histórias incríveis do Manoel, que já morou em Londrina décadas atrás, ousei pedir para comprar um exemplar da safra 2021, que ele mantém na adega pessoal.

Nem te conto a alegria de poder levar para casa um vinho carregado de história. A produção ainda é pequena, o que torna cada garrafa uma oportunidade única de degustação. Claro que também experimentamos o azeite, cujas azeitonas são produzidas na fazenda e enviadas para serem processadas em outro local, também em Minas. Manu explicou a técnica e o processo até chegar na garrafinha. O azeito novo, fresco e de alta qualidade tem uma acidez equilibrada e um sabor exclusivo. Não tem como transpor em palavras a sensação de experimentá-lo.

O local já é uma referência, mas ainda tem muito potencial de se tornar um centro de turismo, de vivência, de degustação e de gastronomia. Não tive nem espaço para falar do bem servido almoço rural, com feijão tropeiro, leitão à pururuca, mandioca frita e outras delícias mineiras. Vou ter que retornar para poder me deliciar um pouco mais e mais demoradamente.