Quem quiser uma viagem gostosa e amorosa pela História de Londrina, deve levar 3 quilos de alimentos não perecíveis ao Mercadão Prochet, para trocar pelo livro "Um Prato Cheio de História", escrito por Bernardo Pellegrini e Maurício Arruda Mendonça. Publicado via Lei Rouanet, o livro não pode ser vendido, os alimentos têm destinação social.

O livro é um presente para Londrina se reconhecer e se valorizar no nonagésimo aniversário, mostrando através da comida como nossa cidade nasceu e cresceu “de braços abertos” conforme seu hino. Nossos pioneiros vieram do mundo todo e do país inteiro, e isso sempre se viu e se vê nas suas comidas e restaurantes.

O livro é em formato almanaque, forma coerente com seu conteúdo, pois a palavra “almanaque” vem do árabe “al-manakh”, lugar de encontro de viajantes para contar histórias. Então a viagem começa com um jantar, quando fazendeiros receberam Lord Lovat para aventar a construção duma ferrovia escoadora de suas colheitas, e o escocês anteviu também a colonização que seria feita pela Companhia de Terras.

A viagem histórica continua pelos peixes do Rio Tibagi e os palmitos da mata, que alimentariam os primeiros pioneiros, passando pelo tempo dos bufês finos “tipo Paris” na Capital do Café, e chegando ao tempo das marmitex na cidade universitária.

Além de textos bem informativos quanto envolventes, o livro com bela edição de Marco Pellegrini consegue contar a singular História de Londrina através não só de restaurantes marcantes mas também bares memoráveis, compondo um painel que dá gosto folhear e reconhecer como coisa-nossa.

Revi o Restaurante Calloni onde comi menino com meus pais uma única vez, “só pra conhecer comida chique”. Reencontrei o Salão de Chá Fuganti, onde adolescente tomei a primeira cerveja, com paletó para parecer moço. E reentrei no incrível Bar Líder, com seu restaurante e sua mercearia, além das oito mesas de esnuque, e que também parecia um grande escritório, com corretores e vendedores de tudo sempre fazendo ali seus negócios.

Me emocionei vendo foto da Pensão Alto Paraná de meus pais, como decerto também tocará muita gente rever o Dante ou o Rodeio, sinônimos de restaurante na Londrina de suas épocas.

O livro também relembra churrascarias pré e pós-cupim, ou seja, antes e depois de se saber assar o cupim de boi. E visita aquele bar que ficou famoso pelas batidas de vinho, coisa de um japonês corintiano famoso chamado Baiano, a revelar o gosto londrinense por inovações.

Assim nossa História vai se revelando através das comidas e até dos petiscos de restaurantes e bares que se foram deixando saudade e, também, dos que resistem ao tempo com suas receitas singulares – e aí se evidencia que a singularidade é segredo dos sucessos londrinenses, como o próprio livro singularmente é para não só ler como também degustar, saber e sentir Londrina. É um livro que dá gosto folhear e é uma delícia ler, tanto para quem nasceu aqui como para quem se tornou ou quer se tornar londrinense. Afinal, como dizia o primeiro londrinense, George Craig Smith, londrinense é quem se acha.