Flore cafeeiro do quintal, e me vejo menino diante de cafeeiro florido e alguém dizendo que, pelo jeito, ia dar muito café naquele ano. Isso, disse outro, se não der geada forte, e fui perguntar a meu pai o que era geada, ele falou que era um frio tão forte que podia até matar os pés de café.

O menino via chegar caminhões na Pensão Alto Paraná para levar dúzias de peões na carroceria, e perguntou aonde iam eles. Vão derrubar mata, responderam. Pra que? Pra plantar café.

Todo mundo veio pra cá por causa do café, disse um dia nonna Paulina, mas nonno José, que era corretor de terras, corrigiu que foi por causa da terra-vermelha, isso sim, que é quem dá tanto café.

Depois lembro de meu filho Jerônimo, menininho, de manhãzinha se espantar da grama congelada “quebrar” sob seus pés, era a geada negra de 1975.

Então também revejo os cafezais com folhas enegrecidas, daí porque “geada negra”, e depois os cafeeiros desfolhados, só com seus galhos secos, sendo tombados por grossa corrente arrastada por tratores.

Daí vejo também os Cinco Conjuntos se plantando, as fileiras de casas todas branquinhas sobre a terra vermelha, todas tão iguais e assim tão diferentes do que se tornariam depois, aumentadas e ajardinadas, como também foi se transformando a ex-Capital do Café.

Revejo o dia em que, num carro passando pela rodovia, alguém falou ah, que cheirinho de café, e alguém brincou: é, é sempre hora de café na Cacique.

Revejo também o nonno torrando café em casa, em torrador manual, sobre fogo de lenha, e a nonna fazendo café depois de moer no moinho também manual pregado na parede, e tio Clério dizendo ah, café torrado assim e coado em coador de pano, é outra coisa!

Lembro de, repórter, um dia a comitiva de carros parar diante de cafezal florindo ali perto da Cacique. As autoridades do primeiro carro já tinham adentrado o cafezal, e perguntei por que, alguém falou que era porque o ministro queria ver cafezal florindo. Chegando perto, ouvi o ministro dizer que nem sabia que cafezal flore, e João Milanez não perdeu a chance de dizer que café é semente, né, e todo fruto ou semente vem de flor...

O Iapar nasceu em colinas antes tomadas por cafezais, e ainda vejo Raul Juliato, seu primeiro presidente, dizendo que, como não é possível acabar com as geadas, era preciso criar variedades de café resistentes ao frio, o que foi feito e deu vida nova à cafeicultura.

Na flor do café vejo também o Cine Ouro Verde, que tem café já no nome, pegando fogo e sendo refeito como a cafeicultura se refez.

Revejo também numa feira agrícola um cafeicultor dizendo que evoluíram não só os cafeeiros como toda a cafeicultura, desde o plantar ao cuidar. Por exemplo, falou, a gente não seca mais café em terreiro mas em tabuleiro suspenso, sem pisar nos grãos: “Virou cultivo de família e exige olfato e paladar, café bom é artesanato”.

Vejo adiante, Londrina explorando mais o café na culinária, no turismo e nas artes, com seu legado de trabalho, empreendimento, resistência e evolução.

Assim a flor do café diz que nasci, vivi e continuo na Capital do Café.