Falando com Fernando Gabeira após sua palestra pela CBN em Londrina, dei-lhe parabéns por ser, entre tantos ex-militantes que pregavam luta armada contra a ditadura militar, um dos poucos a reconhecer que todos queriam tomar o poder para implantar uma ditadura comunista “do proletariado”.

Em 1968, quando ele participou de sequestro de embaixador para libertar presos políticos, eu era ingênuo guevarista com mochila pronta para “ir pra guerrilha”. Embora pudesse ser dispensado do serviço militar, cursei o Tiro de Guerra como preparação para guerrilheiro – e, ironicamente, os cidadãos mais decentes que conheci na ditadura seriam meus três sargentos Isidoro, Cláudio e Ageu.

Depois me democratizei antes da redemocratização do país, militando no MDB quando era partido de resistência à ditadura. Depois ainda, no movimento pela Anistia, me espantaria com a ainda crença de muitos ex-exilados no socialismo, que depois de mais de meio século mantinha racionamento para o povo e luxo para elite nas quinze repúblicas socialistas da URSS.

Em 1989 a queda do Muro de Berlim simbolizou a queda do socialismo autoritário, mas mesmo assim não poucas das ex-vítimas da ditadura brasileira continuariam a crer no socialismo e apoiar ditaduras de esquerda. Enquanto isso, o capitalismo continuou ampliando e aperfeiçoando a corrupção, instabilizando democracias no mundo e assim justificando os que pregam ditadura em nome da ordem.

Gabeira lembra que a polarização, na Europa e EUA, é motivada pela imigração e aqui, pela corrupção. São dois desafios que a democracia tem de superar num mundo em net-colonização, a colonização das mentes pela internet. Pois só colonizando as mentes, com mentiras e distorções de fatos, pode-se conquistar corações para o socialismo autoritário como para o capitalismo liberal, como se chama o negocismo que se pretende sem regras.

O caminho parece ser casar o melhor do capitalismo responsável com o melhor do socialismo humanitário, numa democracia parlamentarista e distrital eficiente e honesta, onde a integridade já seja aprendida pelos filhos com o exemplo dos pais. Gabeira vê que a polarização começou em 2013, com o movimento espontâneo daqueles milhões de pessoas enojadas de tanta corrupção e ineficiência estatal, mas, justamente pela sua espontaneidade, tanta massa deixou pouca organização social, que é o esteio da democracia..

Exemplo da participação social como ferramenta para democracia, as melhores escolas públicas são aquelas em que funciona pra valer a associação de pais e mestres. Enquanto isso, na propaganda política, políticos pedem para as pessoas se filiarem a seus partidos, que entretanto continuam até grandes na votação mas minúsculos em participação. E se aprofunda a aversão das pessoas honestas pela política, que porém é o caminho para democracia.

Conforme ouvi do saudoso prefeito Wilson Moreira, “o pior de tudo é que, com tanta coisa errada nos governos, os homens honestos se afastam da política justamente quando mais se precisa deles”. Então, ele completou, “Deus nos ajude e o povo se mexa”.

Wilson Moreira: “Deus nos ajude e o povo se mexa”