Há uma praga grassando entre a meninada que pegou iphone de 2015 para cá, alertam psiquiatras baseados no aumento crescente de transtornos mentais na já chamada Geração Ansiosa.

Vivendo para o celular, o adolescente deixa de ter vida própria, esportes, brincadeiras, vagabundagens e aventuras próprias da adolescência. E nas redes passam a se reger pela vida dos outros, a se lamentar internamente, a procurar sistematicamente aceitação ou afirmação permanente.

Já os adultos podem ser colonizados pelos algoritmos, consumindo cada vez mais o que lhes é dado e recebendo cada vez mais conforme o que consomem. Dos terraplanistas aos simplórios, todos podem usar a invenção revolucionária trazida pela internet, a auto-edição, permitindo a comunicação sem mediação. Pois a internet abre canais para todos e qualquer um que queira se comunicar, sem editor/es (embora com a tutelagem exploratória das bigtecs).

Mas a net é só a última etapa da História das Comunicações. Nossa primeira grande comunicação, a língua, uniu as primeiras tribos ainda nômades. Depois as estradas foram não só para locomoção como para comunicação entre aldeias e cidades. As primeiras moedas comunicavam que havia um reino que garantia seu valor, com a cara do rei de um lado e do outro lado a coroa do reino. E o próprio comércio é essencialmente comunicação.

A maratona, maior prova olímpica, relembra o soldado grego que morreu depois de correr 42 quilômetros para comunicar a seu povo uma notícia vital.

A invenção da tipografia por Gutenberg tirou da Igreja Católica a exclusividade da comunicação escrita, originando o fermento cultural chamado livro. E o protestantismo foi gerado por dois comunicadores, Lutero e Calvino. O próprio Jesus foi essencialmente comunicador.

As duas invenções decisivas na Segunda Guerra foram nas comunicações, a televisão dos radares que salvaram a Inglaterra da aviação nazista, e a decifração do código Enigma dos submarinos alemães.

Einstein nos comunicou o que até então eram segredos do Universo, e depois a física quântica comunicou que tudo é energia.

Há menos de século telefonemas eram acessados através de telefonistas, até com horas de espera, depois através de telefones de discar que tinham filas de espera para ser comprados. E hoje uma criança pode falar por video com alguém do outro lado de um mundo orbitado por milhares de satélites das comunicações.

Nunca tantos se comunicaram tão intensamente, até porque o celular serve à voz e à imagem, além de incorporar o relógio, a agenda, o calendário, a enciclopédia, o jornal e a revista, redes sociais e tudo-mais, da ideologia à pornografia.

Mas o uso contínuo de celular está afetando a mente, conforme os psiquiatras, e também a coluna, conforme os ortopedistas. Entretanto mesmo os retardatários no uso de celular concordam que, se não devemos viver grudados no celular, não podemos mais viver plenamente sem celular nesta Era Net.

(E, enquanto isso, noticia-se que a China prepara arma capaz de afetar os satélites de comunicação, augurando que poderemos ainda ver – ou nem conseguir ver – uma guerranet. Benzadeus!)