Cambé - A entrada do prédio que abriga a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Cambé (Região Metropolitana de Londrina) chama atenção: uma árvore de Natal com grandes galhos que se espalham pelo espaço, luzes e, ao invés de bolas para decorar, papéis com o formato dos objetos. Em cada papel, pedidos dos 270 alunos da instituição, que buscam um fim de ano mais feliz à espera de um presente.

Decoração na instituição chama a atenção: pedidos dos alunos ao invés das bolas para decorar
Decoração na instituição chama a atenção: pedidos dos alunos ao invés das bolas para decorar | Foto: Pedro Marconi - Grupo Folha

O projeto iniciou há cerca de quatro anos, quando a organização social foi contemplada pela campanha Natal do Correios. “Participamos, porém, nos anos seguintes outras instituições seriam escolhidas. Então, como foi positivo, surgiu a ideia de criar a árvore em alusão a de Natal e divulgar para a comunidade, para ela vir adotar uma carta. É a nossa ‘árvore dos desejos”, explicou Luciano Ribeiro Sil, diretor pedagógico da Apae.

Nos papéis os estudantes escreveram o nome, turma, idade e o desejo. “Alguns conseguiram escrever, outros desenharam. Têm aqueles que fizeram o recorte da revista. Quem não tem condição motora a professora escreveu. Cada um pediu do seu jeito”, destacou. “Os professores orientaram todos de que se trata de uma lembrança”, acrescentou. Entre as solicitações estão rádios portáteis, bonecas e materiais escolares.

Os pedidos foram colocados para adornar a árvore no começo de novembro e até o final do mês somente alguns ainda não contavam com padrinhos. A doação na instituição por parte de quem adotou vai até 6 de dezembro. Já no dia 13 será realizada uma festa de entrega, com direito a Papai e Mamãe Noel, ajudantes e uma ceia natalina.

“A entrega é feita nos respectivos períodos de aula. Os docentes e funcionários produzem roupas de ajudante do Papai Noel para promover a distribuição. A ceia é uma forma de oportunizar este momento para eles, já que muitos não vão ter isto. Caprichamos e fazemos tudo o que conseguimos. É uma emoção grande, muitos alunos choram, porque esse é o Natal que terão”, relatou.

A Apae de Cambé atende a partir do zero ano, com o mais velho tendo 43 anos. É a única organização do município especializada e que acolhe e dá condição de aprendizagem para pessoas especiais, indo da educação básica até a EJA (Educação de Jovens e Adultos). São aproximadamente 100 funcionários, da área da saúde e educacional.

SOLICITAÇÕES

Aluna da EJA, Bianca Ribeiro dos Santos, 19, pediu uma bolsa escolar da cor rosa. “Gosto de vir à escola e vou utilizar para trazer os materiais”, projetou. Vaidosa, Nádia Beatriz Marques Rodrigues, 20, já aproveitou para elencar vários desejos. “Pedi uma bolsa, maquiagem, garrafa para tomar água e estojo. Estou precisando e espero ganhar”, destacou.

Entre as mais ansiosas à espera da entrega, Rayane Vitória Barbieri Camilo, 18, contou que ela e as colegas adoram o Natal, por ser um período de festa. “Coloquei no meu pedido uma caixinha de som preta e pen drive. Quero ouvir música, em especial sertaneja”, apontou.

ENVOLVIMENTO

Segundo Luciano Sil, a ação se tornou tradição e acaba sendo aguardada com entusiasmo por todos. Para ele, o ajudar não é uma questão de piedade, mas sim de humanidade. “Independentemente de religião, praticar o bem leva ânimo e dá motivação. Quando a comunidade se envolve, se torna algo além de uma data. Muitos que vêm pegar os pedidos conhecem a escola, observam a realidade dos alunos. Isso é acolher as diferenças, quebrar barreiras e preconceitos.”