Na manhã deste sábado (22), pelo menos 200 crianças foram até a Escola Municipal Hélvio Esteves, na zona norte de Londrina, para uma atividade diferente: cuidar da saúde dos olhos. Através do Hoftalon nas Escolas, o Hospital de Olhos de Londrina leva médicos e toda a estrutura ambulatorial para unidades da rede municipal, onde meninos e meninas passam por consultas e exames. O projeto, que é uma parceria com a secretaria municipal de Educação, já existe há 20 anos e só neste ano atendeu mais de 550 alunos.

Diretor do Hoftalon e idealizador da ação, o médico Nobuaqui Hasegawa explica que o projeto surgiu como uma forma de aproximar os residentes de Oftalmologia que atuavam no hospital da realidade socioeconômica de grande parte da população.

“Nós somos um país pobre e uma grande parcela não tem acesso a esse tipo de assistência”, pontua Hasegawa. Segundo ele, o foco é atender estudantes das escolas públicas do município que ficam em regiões periféricas. Ao longo das duas décadas de trabalho, ele já perdeu as contas de quantas crianças foram beneficiadas pelo projeto. De acordo com informações da secretaria municipal de Educação, em todos esses anos, mais de 5 mil crianças já foram atendidas.

Imagem ilustrativa da imagem Projeto leva consultas oftalmológicas a alunos de Londrina
| Foto: Jéssica Sabbadini

TREINAMENTO DOS PROFESSORES

Para atender o público-alvo da ação, que são as crianças com algum tipo de doença ou dificuldade para enxergar, os professores passaram por um treinamento para identificar possíveis sinais, como cansaço durante as aulas. A partir daí, a escola entra em contato com as famílias para agendar o atendimento: no dia, o aluno passa por uma consulta e por diversos exames, como de fundo de olho e de refração.

Como um todo, o projeto possibilita a prevenção e diagnóstico de doenças como a ambliopia, que causa desvio ou desalinhamento dos olhos. O diagnóstico também identifica outras doenças oculares como estrabismo, miopia, astigmatismo e hipermetropia.

Outra finalidade é orientar os pais para os cuidados com a visão dos pequenos durante a primeira infância e alertá-los sobre a importância do diagnóstico precoce.

ESCOLHA DE ÓCULOS

Caso fique constatado a necessidade do uso de óculos, a criança vai para uma sala específica onde pode escolher a armação e fazer as medições. Após 30 dias, os óculos pode ser retirado gratuitamente na escola.

Esse é o caso da pequena Manuella, de 6 anos, que foi diagnosticada com astigmatismo. A mãe, Thalita Ayres, 29, conta que a filha por vezes reclamava de dores de cabeça, mas foi a professora que percebeu que a menina apresentava um cansaço anormal durante as aulas.

“Quando ela ia fazer as atividades, cansava muito rápido e não queria continuar escrevendo”, relata, complementando que chegou a levar a filha em médicos para investigar a possibilidade de ser algum problema ligado ao déficit de atenção: “mas na verdade era a falta de óculos”. Apesar da timidez, Manuela garante que está animada para usar o acessório rosa que escolheu.

SINAIS DE ALERTA

Hasegawa aponta que os pais devem ficar atentos ao desempenho dos filhos na escola, já que a dificuldade no aprendizado pode ser um sinal de uma possível doença ocular ou a necessidade do uso de óculos. Nos casos de astigmatismo e hipermetropia, o cansaço e falta de foco também são sinais muito comuns e que precisam ser levados a sério.

Como a triagem inicial é feita pelas professoras, pelo menos 60% dos alunos que passam pelo atendimento têm a indicação do uso de óculos, o que permite que a ação seja mais efetiva ao atingir o público-alvo.

O uso excessivo das telas, por exemplo, também pode prejudicar ainda mais a visão das crianças que já tem uma condição inicial. “Cada vez mais precocemente as crianças são diagnosticadas com miopia, então estão associando o fato de as crianças ficarem muito nas telas”, explica o médico.

Imagem ilustrativa da imagem Projeto leva consultas oftalmológicas a alunos de Londrina
| Foto: Jéssica Sabbadini

REGIONALIZAÇÃO

Gerente de Educação Especial da Secretaria de Educação de Londrina, Cristiane Sola Rogério explica que o projeto Hoftalon nas Escolas é organizado por regiões. Nas duas primeiras edições de 2024, o mutirão foi até as zonas leste e oeste, atendendo mais de 350 crianças; neste sábado, mais 200 crianças que estudam em 30 unidades educacionais da zona norte passaram pelas consultas e exames. Nos próximos meses, o projeto vai percorrer as demais regiões.

Ela reforça que trazer esse serviço para dentro das escolas é uma forma de facilitar o acesso para as famílias, assim como disponibilizar de forma gratuita o óculos ou a continuidade do acompanhamento com especialistas no caso de alguma doença ocular.

“Quanto mais precoce a gente identifica, melhor a gente consegue atender a criança em sala de aula porque a dificuldade visual interfere no processo de aprendizagem e de alfabetização da criança”, aponta.

Imagem ilustrativa da imagem Projeto leva consultas oftalmológicas a alunos de Londrina
| Foto: Jéssica Sabbadini

Após passar por consulta com os médicos que atuam no projeto, o pequeno Leonardo, de dois anos e sete meses, vai dar continuidade no acompanhamento com um especialista no Hoftalon. Liliane Santos, 32, explica que o filho tem cavernomatose, que é uma doença genética que causa o surgimento de tumores benignos na cabeça.

Por conta de um sangramento em um dos tumores há pouco mais de um ano, o pequeno desenvolveu duas lesões nas córneas, o que exige um acompanhamento com um oftalmologista especialista em córnea para saber a evolução da doença e se ele vai precisar usar óculos. Para ela, a agilidade é o ponto principal da ação, já que pode sair com o pedido em mãos e dar continuidade no tratamento sem perder tempo. (Com N.Com)