Walton Luiz Del Tedesco Júnior: "O brasileiro achou que estava acima da Covid"
Walton Luiz Del Tedesco Júnior: "O brasileiro achou que estava acima da Covid" | Foto: Arquivo Pessoal

Um ano depois do primeiro caso confirmado de Covid-19 em Londrina, o médico infectologista Walton Luiz Del Tedesco Júnior, que concedeu entrevista à FOLHA em abril de 2020, disse que naquela época não imaginava que a pandemia tomaria a proporção que tomou hoje, nem que teria uma perspectiva tão negativa. "A gente tinha medo da gravidade e hoje entende que foi pior que imaginava. A perspectiva para as próximas semanas é catastrófica, sem leitos, sem medicamentos, e com a vacina, que poderia mudar esse panorama, vindo a passos de tartaruga. Ainda vai demorar muito até que a população inteira seja vacinada", disse o profissional, que atua no HU e na Santa Casa.

De lá para cá, o perfil dos pacientes que evoluem de forma grave também mudou muito. Se antes estes eram idosos com outras comorbidades, agora se vê cada vez mais pacientes jovens e sem comorbidades apresentando quadro grave da doença. "A maioria ainda evolui de forma leve, mas a proporção de pacientes que tem evoluído para formas mais graves, mesmo pacientes que não têm comorbidades ou são mais jovens, está totalmente diferente."

A essa altura, equipes médicas já chegaram à exaustão, sem contar aqueles que foram infectados na linha de frente. "Não só médicos. Covid é uma doença multidisciplinar, precisa do enfermeiro, fisioterapeuta, nutricionista, psicólogo, a equipe inteira. Todo mundo está no limite. Uma coisa é você ficar um ou dois meses na sobrecarga de trabalho, de tensão, outra coisa é esse estresse físico, psicológico, por mais de um ano, e o pior, com tendência a piora."

Para o médico, o "maior pecado" do governo federal foi não ter buscado a vacina antes. E da população, de não ter respeitado as medidas de combate à pandemia. "O governo federal com certeza teria que ter buscado a vacina antes. Vários outros países se mobilizaram por que sabiam, os cientistas falavam que o que poderia mudar é a vacina. O Brasil ficou para trás. A mobilização por vacina foi no meu ponto de vista o maior pecado do governo federal, que é o que mantém a gente nesse quadro catastrófico."

"E como população, o brasileiro não respeitou pandemia", ele continua. "O brasileiro achou que estava acima do Covid. A gente percebe que o Covid evoluiu com a pandemia, ficou mais forte, agressivo, mas o brasileiro não evoluiu com a pandemia. Não é nem questão de defender lockdown, mas de defender medidas restritivas, medidas básicas, de uso de máscara, de álcool gel, distanciamento social, estando ou não o comércio aberto."

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