Foi oficialmente inaugurada nesta terça-feira (30) a biofábrica do Método Wolbachia em Londrina, que promete ajudar no combate à transmissão da dengue na cidade. A estrutura para o desenvolvimento da tecnologia fica em três grandes salas no prédio do Laboratório de Análise Farmacêutica da UEL (Universidade Estadual de Londrina), na zona oeste. O espaço foi cedido pela instituição. Durante a cerimônia foram liberados alguns mosquitos Aedes aegypti.

“O objetivo do Método Wolbachia é trocar a população (de mosquitos) que transmite a dengue, zika e chikungunya por uma população refratária a esses vírus, ou seja, por mosquitos que não vão ser capazes de transmitir essas doenças por conta da bactéria Wolbachia. É uma bactéria que vive dentro da célula do Aedes aegypti e ela impede que os vírus entrem na célula e se repliquem”, detalhou Diogo Chalegre, líder de Relações Institucionais e Governamentais do Instituto WMP (World Mosquito Program).

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A implementação da estratégia no município conta com a parceria do Ministério da Saúde, Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), prefeitura e instituto. O Governo Federal repassou cerca de R$ 5 milhões, sendo R$ 1,8 milhão foi utilizado apenas para a compra de equipamentos. Serão 20 funcionários. A partir do segundo semestre de agosto serão soltos cerca de três milhões de mosquitos semanalmente, até completar o período de 20 semanas, o que dá aproximadamente 60 milhões de insetos no total.

A cobertura será de 60% do território londrinense. “(A escolha dos bairros) se deu por meio de um estudo técnico da nossa equipe de endemias, junto com a equipe técnica da Fiocruz e do Ministério da Saúde. Elencamos as regiões prioritárias. Neste sentido todas as regiões da cidade, exceto a zona rural, serão contemplados com essa metodologia, alcançando mais de 300 mil habitantes”, explicou o secretário municipal de Saúde, Felippe Machado.

SEM RISCOS

O representante da WMP frisou que os mosquitos não são geneticamente modificados e que não oferecem riscos à população. “Além da fêmea continuar colocando os ovos, o mosquito é igual ao mosquito de Londrina. Coletamos ovos da cidade, levamos para o Rio de Janeiro, cruzamos com os nossos mosquitos lá no Rio e hoje temos uma colônia aqui. Toda a fêmea, quando coloca o ovo que tem a Wolbachia, vai passar para os descendentes”, pontuou Chalegre.

Biofábrica ocupa espaço cedido pela UEL, na zona oeste
Biofábrica ocupa espaço cedido pela UEL, na zona oeste | Foto: Pedro Marconi

A projeção é de que o impacto da metodologia surta efeito entre um e dois anos. “Temos grande probabilidade de termos efetivamente uma estratégia de sucesso. Isso representa uma redução na mortalidade e morbidade por dengue. Só quem teve dengue ou perdeu alguém que amava por dengue sabe o que isso representa na vida de uma pessoa e de uma família”, comentou Lúcia Lopes, chefe da 17ª Regional de Saúde.

CUIDADOS CONTINUAM

A regional contabiliza no atual ciclo epidemiológico, que teve início em julho do ano passado, mais de 77 mil casos de dengue e 97 mortes. Londrina, somente neste ano, já registrou mais de 63 mil notificações, com mais de 37 mil positivações para a doença e 52 óbitos. A cidade enfrentou por dois anos consecutivos epidemia. “Os dados apontam que em nossas epidemias 95% dos focos estão dentro dos quintais e das casas. O método vem como uma forma complementar”, destacou Machado.

Mesmo com a nova tecnologia aplicada no município foi alertado que os cuidados básicos não devem ser descontinuados pelos moradores. “A população não vai saber se o mosquito tem ou não tem Wolbachia. Então, ela tem que continuar fazendo a parte dela, tem que eliminar criadouro, usar o repelente. Tem que eliminar o mosquito, independentemente se seja com Wolbachia ou não. O que falamos é: se sobrar um mosquito, que seja com Wolbachia, porque ele não vai poder transmitir a doença”, orientou o líder da WMP.

‘Ferramenta diferente de tudo que estávamos utilizando’, diz secretário do MS

Na avaliação do secretário-adjunto da Secretaria de Vigilância e Ambiente do Ministério da Saúde, o chamado Método Wolbachia é um contraponto ao que os governos vinham utilizando em quatro décadas. “Depois de praticamente 40 anos ininterruptos convivendo com a dengue e utilizando o mesmo método de controle do vetor, que é basicamente a soltura de inseticidas na natureza, hoje temos uma ferramenta diferente de tudo aquilo que estávamos utilizando”, disse Rivaldo Cunha, que esteve em Londrina nesta terça-feira, na inauguração da biofábrica.

“Não é uma transgenia. Por isso, abre a perspectiva concreta para que possamos reduzir a utilização dos inseticidas, em especial do fumacê, que é excelente para matar o Aedes aegypti que está voando, mas também mata borboleta, lagartas, abelhas, pequenos pássaros. É uma metodologia consistente para que possamos iniciar, paulatinamente, a redução da utilização desses inseticidas e certamente a natureza vai agradecer”, elencou.

Além de Londrina, estão sendo entregues outras cinco biofábricas: Foz do Iguaçu (Oeste do Paraná), Natal (RN), Uberlândia (MG), Presidente Prudente (SP) e Joinville (SC). O método passou a ser implantado no Brasil como projeto-piloto em Niterói, no Rio de Janeiro, em 2015. De acordo com o Ministério da Saúde, o município teve uma redução de 70% dos casos de dengue nas áreas em que houve a intervenção.

Sem citar o valor do possível investimento Federal, Cunha anunciou a projeção de ampliar a aplicação da tecnologia no País. “Queremos expandir de forma intensa a utilização desse método na região Sul, a partir de uma fábrica que será inaugurada no início do ano que vem em Curitiba, também no Ceará, no Nordeste, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, Minas Gerais”, citou.