Para a Polícia Civil não restam dúvidas de que o advogado e servidor público aposentado Hamilton de Melo, 70, vítima de latrocínio – roubo seguido de morte – em Londrina, foi atraído pelos criminosos numa ação previamente planejada. A apuração desmente a versão dada por um dos suspeitos em depoimento, de que o idoso foi assassinado “num instante de raiva” após suspostamente insinuar falas amorosas para a irmã dele, que tem 16 anos.

A ideia, de acordo com o delegado Rafael Souza Pinto, era extorquir a vítima. “Temos elementos materiais, como laudo de local de crime e de necroscopia, que nos apontam que houve sinais de tortura e sofrimento para poder retirar as senhas da vítima. Posteriormente, quando os autores tiveram acesso ao telefone celular da vítima, pesquisaram sua vida pessoal e posição social na cidade e optaram por matá-lo para poder ocultar o crime”, detalhou, durante entrevista coletiva.

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Hamilton foi dado como desaparecido no dia 15 de agosto. O corpo dele foi encontrado no dia seguinte escondido numa geladeira em desuso nos fundos de uma casa na rua Ermelindo Leão, na área central. “Um dos autores mora na casa, porém, ele tem muitos parentes, inclusive, os pais, que moram ali perto e frequentam a casa. O corpo foi colocado dentro da geladeira para ocultar e se alguém entrasse na casa não veria. Mas na própria madrugada eles foram procurar locais para poder ocultar o cadáver”, detalhou.

Pelo menos oito pessoas teriam participado do crime de forma direta ou indireta, sendo três garotas de 16 anos. “Três homens foram responsáveis por dominá-lo fisicamente e as adolescentes em amarrá-lo enquanto estava dominado”, destacou. O advogado conhecia uma das adolescentes.

Atualmente, estão presos dois homens, de 20 e 22 anos de forma preventiva, e outro de 22 anos está com a detenção temporária, pelo prazo de um mês. Ele foi localizado na semana passada no conjunto Aquiles Stenghel, na zona norte, e seria o autor da facada no pescoço do idoso. Duas adolescentes seguem apreendidas, respondendo pelo ato infracional equiparado ao crime de roubo agravado com morte.

RECUPERAÇÃO DO DINHEIRO

Cerca de R$ 50 mil teriam sido desviados das contas bancárias de Hamilton, com parte do dinheiro direcionado para plataformas de jogos, com o intuito de tentar ludibriar as investigações. “Estamos oficiando os bancos responsáveis no Brasil que gerenciam a conta dessas plataformas de jogos eletrônicos. O que posso afirmar é que nesse caso específico isto está sendo um embaraço técnico com o qual nunca havíamos nos deparado antes”, ponderou.

O inquérito ainda não foi concluído. “Devemos fazer a formalização dos elementos de prova, tais como laudos, depoimentos, declarações e novo relatório de investigação, para que tenhamos provas suficientes para poder exaurir os elementos da autoria”, explicou.

CONDENAÇÃO

O último registro de latrocínio em Londrina, antes deste caso, havia sido em 2022. Na época, um idoso foi executado por um garoto de programa. A condenação dele e dos comparsas foi proferida há cerca de 20 dias. “O autor foi condenado a 26 anos de reclusão em regime fechado. Lembrando que o latrocínio é crime hediondo. Os outros cinco receptadores foram apenados com reprimendas que variam entre quatro a seis anos”, afirmou o delegado.