Imagem ilustrativa da imagem Empinar pipa pode ser aprendido na internet
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Criado na China por volta do ano 1200 a.C., aos poucos o hábito de empinar pipa tem passado por transformações. Se um dos grandes prazeres das crianças de outras épocas era a confecção de sua pipa, agora muitas crianças e adolescentes preferem modelos comprados prontos. E se a arte de empinar pipa era passada de pai para filho, atualmente muitos recorrem a vídeos disponibilizados na internet.

Os canais no YouTube ensinam como fazer pipas melhores, realizar as manobras e travar os combates no ar. Há vídeos que registram mais de 3 milhões de visualizações. Um em especial fica em um canal que possui 1,65 milhão de inscritos e mais de 183 milhões de visualizações: o Diamante Pipas.

Arthur Matheus de Oliveira Jerônimo, 11, conta que que aprendeu a soltar pipa com o seu pai quando tinha sete ou oito anos e que até tentou confeccionar. "Àss vezes dá errado, então comprar pronta é mais prático”, destaca. E quando o assunto é aprender manobras, ele diz que recorre a vídeos tutoriais no YouTube. “Eu vejo bastante dicas por lá. Mas a que eu acho mais importante é a que diz que não adianta brigar por uma pipa se perdê-la”, afirma o garoto, que no domingo (22) participou de um festival de pipas na zona norte de Londrina. Centenas de pessoas se reuniram no Autódromo Ayton Senna no evento organizado pelo comerciante Leandro Gallo.

A auxiliar de limpeza Mírian Sabrina Martins, 32, conta que quando era criança, parte da diversão era a confecção da pipa. “A gente ia no mato para pegar bambu para fazer as varetas. As velas a gente fazia com papel de seda e sacolinha plástica. Aprendi a fazer pipas quando eu tinha 10 ou 11 anos. Mas agora o pessoal compra tudo pronto. É muito difícil quem faz em casa. Até a rabiola as crianças compram prontas”, aponta.

Seu filho Júlio César Gaspar Machado, 12, revela a sua paixão pela brincadeira, mas diz abrir mão da etapa de construção das pipas. “É uma brincadeira que eu gosto. Se deixarem, eu fico praticamente o dia inteiro soltando pipa, mas eu prefiro comprar pronta”, destaca. O garoto diz ter noção noção dos perigos que uma pipa pode provocar, por isso prefere soltar apenas em espaços abertos, como em campos de várzea ou até mesmo no Estádio do Café. “Moro no Jardim Nova Olinda e lá perto não tem lugar para soltar, porque tem muito prédio. Mas sei dos riscos para um motoqueiro, por exemplo. Eu mesmo já cortei a mão com linha com cerol”, conta.

VOCABULÁRIO

Para acompanhar os vídeos que ensinam como empinar pipas no YouTube, os não iniciados nessa arte precisam ter pelo menos uma noção do vocabulário utilizado., “Aprendi como descer o retão. Para fazer isso você tem que dibicar a pipa. Foi muito difícil de aprender”, conta Éverton dos Santos Siqueira, 12, um dos que utiliza a internet para aprender mais sobre pipas. Descer o retão é a manobra que faz a pipa diminuir a altitude e dibicar ou tenteio é o ato de puxar e soltar a linha.

Maria Eduarda dos Santos, 9, diz gostar quando há muitas pessoas soltando pipa por um motivo em particular. “Tem bastante gente para tirar relo”, destaca, para depois explicar: “tirar relo é quando a pessoa corta a pipa de outra pessoa. Quero cortar bastante relo e quanto mais gente tiver é melhor”.

A mãe de Maria Eduarda, a dona de casa Fernanda Cristina do Amaral, 28, admite que aprendeu a fazer pipas somente este ano. “Quando criança empinava pouco. Era outra pessoa quem fazia as pipas para mim. Aprendi agora por causa de minhas filhas, Maria Eduarda e Ana Júlia. Ela destaca que a pipa foi uma forma de tirar suas filhas do sedentarismo provocado pela tecnologia. “Muito melhor do que ficar no celular ou só na internet." A filha Ana Júlia, 7, ainda orientou o repórter que não se pode soltar pipas perto de cabos de energia. “Senão pode tomar choque”, destaca.

O desempregado Jhonathan Vinícius Antoniazzi, 20, relata que pegou três pipas “peixinho” em meia hora. A pipa peixinho é uma raia pequena com rabiola e tem sido um dos modelos preferidos pela agilidade das manobras, em detrimento de modelos maiores, como o modelo Maranhão, que chega a ter até um metro de altura. “A sensação é boa, me desestressa”, destaca.