Uma sibipiruna de 12 metros de altura, plantada há 66 anos na avenida Higienópolis (Centro de Londrina) e que corria o risco de ser erradicada, poderá ser recuperada. Apesar de ter autorização da Sema (secretaria municipal do Ambiente) para retirá-la, o comerciante Marcelo Cassa decidiu chamar um especialista para salvar a árvore, que fica em frente à sua loja.

Marcelo Cassa e Efraim Rodrigues: curar ao invés de cortar
Marcelo Cassa e Efraim Rodrigues: curar ao invés de cortar | Foto: Ricardo Chicarelli - Grupo Folha

“Quando ia realizar o corte, fiquei olhando para a árvore e vi que ela não estava tão ruim, já que estava vendo brotos e galhos novos. Concluí que alguma vida tem ali”, relatou Cassa. “A avenida é arborizada e fica bonita assim. Imaginei que eu poderia plantar outra no lugar para repor essa, mas vou usufruir do benefício dessa nova quando? Daqui a 40 anos?”

O comerciante havia procurado a Sema após verificar que a raiz estava apodrecendo. "Fiquei preocupado de a árvore cair na loja", disse, contando que pediu e conseguiu autorização para erradicar, alegando que ela iria cair. Depois que decidiu pela recuperação da árvore, ele resolveu chamar um especialista para avaliar, e chegou ao nome do professor do curso de agronomia da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Efraim Rodrigues.

O ecólogo confessa que quando recebeu o pedido do comerciante, achou que era mais uma pessoa querendo ajuda para cortar uma árvore. “Essa história eu conheço. Já fui chamado para avaliar mais de 900 árvores na década de 1990, e somente três estavam condenadas. Quando caiu uma delas, era uma daquelas que eu tinha apontado como doentes”, destaca. Mas quando viu que o pedido de Cassa era para salvar a árvore, viu que era o caso oposto. “Está aí uma coisa diferente”, pensou.

O professor assegura que, embora a árvore tenha um buraco na raiz, ela continua sadia. “O que vou fazer não é nenhuma novidade. Será realizada uma cirurgia dendrológica, que é um procedimento conhecido e muito parecido com curar uma cárie”, afirma. “A gente fará um cimentado que vai ter isopores no meio e depois, para não criar fungo, passará uma pasta bordalesa, que é a mesma calda usada para combater fungos em parreira, que terá ação antisséptica”, descreve.

O ecólogo afirma que é preciso criar o hábito de curar árvores em vez de cortá-las. “Quantas décadas levou para essa árvore ter esse tamanho? Qualquer árvore que se plantar ali vai levar décadas para crescer”, ressalta.

Imagem ilustrativa da imagem Comerciante e agrônomo se unem para salvar árvore em Londrina
| Foto: Ricardo Chicarelli - Grupo Folha

PLANTIO A PEDIDO DE MILTON MENEZES

A paisagista e bióloga Rosani Cavalcanti Künhlein é filha de Erich Franz Künhlein, responsável pelo plantio da sibipiruna em 1953. Ela relata que seu pai veio a Londrina acompanhando o segundo carregamento de mudas de árvores encomendadas pelo então prefeito Milton Menezes. O primeiro carregamento, conta a bióloga, chegou com várias árvores secas, porque não havia ninguém para realizar a rega e cuidar das plantas.

“Meu pai veio acompanhando a segunda carga de mudas para garantir que elas chegassem inteiras aqui. Aí passou a trabalhar na Prefeitura de Londrina tanto para cuidar das árvores como para fazer o plantio. Ele ficou trabalhando para o município até 1961”, explica.

Künhlein foi responsável pelo plantio das árvores em todo o Centro de Londrina. E escolheu ipês, grevíleas, tipuanas, sibipirunas e quaresmeiras. “A maioria deu certo, mas só a grevílea que foi um erro. Em São Paulo, por causa da garoa, elas não cresciam tanto como aqui. Lá dava certo, mas nosso calor é diferente", explica.

Sobre a preservação da sibipiruna, ela diz que se for feito um trabalho de preservação será excelente para a família. "Tudo o que ele fez é um memorial fantástico para a gente”, destaca. A bióloga relata que sua mãe Lindinalva sempre lembra do marido ao passar pelas árvores. “A cada árvore grande que vê, sabe que foi ele que plantou”, observa, destacando um pau-brasil que está plantado na via que fica entre a Catedral Metropolitana e a praça Marechal Floriano Peixoto (Praça da bandeira). “Ali tem um pau-brasil que também está com um buraco e que também precisa ser salvo. Originalmente eram dois, mas um já morreu”, relembra a idosa de 90 anos.