A atenção da família de Arthur é a mesma recomendada para outros pais com filhos pequenos ou adolescentes para o diagnóstico precoce do câncer infantojuvenil, o que impacta no sucesso do tratamento e da cura. Essa conscientização faz parte do Setembro Dourado, mês dedicado para debater o tema. Em Londrina, a campanha foi oficialmente lançada durante evento na ONG Viver nesta segunda-feira (2) com a proposta “Estar atento faz a diferença”.

Há cerca de dois anos Arthur Miguel da Silva, 9, começou a sentir dores de cabeça constantes que o deixavam desanimado e fazendo com que dormisse mais que o normal. Os sinais despertaram o alerta na família, que rapidamente procurou ajuda médica. “Levamos na UBS (Unidade Básica de Saúde) e ele foi encaminhado para o oftalmologista. Achávamos que era algo relacionado à visão. Como iria demorar a consulta pelo município, pagamos uma oftalmologista particular para que ele fosse avaliado”, contam os pais, Nayane Tayna da Silva e Alex de Araújo Rodrigues.

LEIA TAMBÉM: Parkinson juvenil: entenda a importância do diagnóstico precoce

Durante a consulta, os moradores de Apucarana (Vale do Ivaí) logo foram orientados a procurar um neurologista, o que conseguiram no mesmo dia. “O neurologista falou que teria que interná-lo para tomografia e o exame mostrou que ele estava com uma hidrocefalia por conta de um craniofaringioma (tipo raro de tumor cerebral). Foi necessário fazer uma cirurgia de emergência no Hospital da Providência para colocar um dreno na cabeça dele”, relembram.

Diagnóstico de Arthur veio 15 dias após os primeiros sinais
Diagnóstico de Arthur veio 15 dias após os primeiros sinais | Foto: Pedro Marconi

Posteriormente, a criança foi encaminhada para o Hospital do Câncer de Londrina, onde há um ano fez um procedimento cirúrgico para retirar o tumor. Os pais têm certeza de que o diagnóstico rápido fez diferença para hoje o garoto estar saudável, com acompanhamento mensal no hospital. “A consulta de oftalmologista pelo SUS (Sistema Único de Saúde) demorou um ano para sair. Se fossemos esperar, teríamos perdido muito tempo e ele poderia estar cego”, frisam.

A atenção da família de Arthur é a mesma recomendada para outros pais com filhos pequenos ou adolescentes para o diagnóstico precoce do câncer infantojuvenil, o que impacta no sucesso do tratamento e da cura. Essa conscientização faz parte do Setembro Dourado, mês dedicado para debater o tema. Em Londrina, a campanha foi oficialmente lançada durante evento na ONG Viver nesta segunda-feira (2) com a proposta “Estar atento faz a diferença”.

“A ONG Viver há 23 anos convive com essa realidade das famílias. Entendemos o quanto é importante falar sobre diagnóstico precoce, porque com ele o tratamento se torna mais fácil, rápido e leve. Quando demora a conseguir um diagnóstico, a entender que é um câncer, muitas vezes a criança já não está mais entre nós ou enfrenta uma jornada bem mais árdua para conseguir a cura. Nos sentimos no dever de promover a informação”, destaca Carlos Pirani, assessor de comunicação da entidade.

SEM NEGLIGENCIAR

A médica oncologista pediátrica do Hospital do Câncer de Londrina, Tania Anegawa, pontua que os tumores em menores de idade em muitos casos são confundidos com outros problemas de saúde. Por isso, as famílias não devem negligenciar na busca por atendimento médico. “Cabe ao profissional de saúde e aos pais procurarem uma investigação mais minuciosa para entender se é ou não um câncer, aceitar que a doença existe. Quanto mais rápido for esse diagnóstico, ele pode ajudar na vida da criança”, adverte.

CAPACITAÇÃO

Para formar uma rede de saúde com mais informações sobre o diagnóstico precoce, formações têm sido ministradas com frequência, inclusive, para estudantes de medicina. “É uma capacitação que envolve enfermeiros, médicos, técnicos. São datas específicas que fazemos esse treinamento. Não é fácil fazer o diagnóstico, não é num simples olhar. Mas o fato é que quando a gente pensa que pode ser esse diagnóstico, estamos mais perto”, reflete. “A criança está cansada, mas é porque está ficando adolescente, está com dor na perna, mas é porque joga bola. Não pode subestimar os sintomas”, explica a especialista.

INCIDÊNCIA

Entre os tumores mais comuns em crianças e adolescentes estão as leucemias e linfomas. “Os sintomas mais comuns são anemia, fadiga, perda de peso, mancha roxa pelo corpo, emagrecimento. O câncer infantil é raro, acomete de 2% a 4% na fase pediátrica, só que é a segunda causa de morte infantil e a primeira de internação hospitalar. Décadas atrás pensar em câncer era significado de morte. Hoje estamos melhorando, mas com taxas de cura menores se comparado com países desenvolvidos. Falar sobre isso é reforçar que o câncer infantil tem cura e se diagnosticado precoce garantimos melhores taxas de cura, tratamentos menos invasivos e a reinserção na sociedade.”

Diferentemente de adultos, o câncer infantojuvenil está muito relacionado a síndromes genéticas. “Sabemos que existe uma pré-disposição em crianças que a família tem histórico de câncer em pais, irmãos. Cada vez mais destacamos a relação da obesidade na infância, podendo desenvolver um câncer na adolescência”, acrescenta a médica.

SERVIÇO – Mais informações sobre o câncer infantojuvenil podem ser obtidas pelo site estouatento.com.br .

ONG Viver oferece serviços de assistência, especialistas e acolhimento

A ONG Viver atende 288 crianças e adolescentes em tratamento contra o câncer. São meninos e meninas que vêm de mais de 80 municípios do Paraná. “Temos o Hospital do Câncer aqui na frente e fazemos o trabalho de acolhimento, de apoio para que o momento do tratamento seja mais leve. Aqui encontram assistente social, psicóloga, nutricionista, recreação, acolhida, refeições, espaço para pernoite dos pais quando tem criança internada. É uma série de serviços e benefícios e tudo gratuito”, ressalta o assessor de comunicação da instituição filantrópica, Carlos Pirani.

Ana Clara dos Santos, 18, é atendida pela entidade há um ano, depois que passou por uma cirurgia. “Ela estava em tratamento no Hospital do Câncer e uma amiga indicou a ONG. Fomos muito bem acolhidas. Aqui ela tem nutricionista, psicóloga, odontologia. Ganhamos cesta básica, leite, medicamentos, já que tive que parar de trabalhar. Ela deverá ter acompanhamento de fisioterapeuta, pois, está com dificuldade de andar”, cita a mãe da jovem, a pedagoga Ana Cristina dos Santos.

Ana Clara dos Santos está curada: "Estar atento aos sintomas básicos!
Ana Clara dos Santos está curada: "Estar atento aos sintomas básicos! | Foto: Pedro Marconi

Ana descobriu um meduloblastoma – que é um câncer do cerebelo – há dois anos, após passar a sentir fortes dores de cabeça. Foram dois meses tentando um diagnóstico certeiro, que veio depois de desmaiar e ter convulsão. “Após uma tomografia o neurologista deu o diagnóstico e já tive que internar. Entrei no hospital segunda e na sexta fiz a cirurgia. O tumor estava com sete centímetros, comprimindo já a cabeça”, afirma.

A jovem hoje está curada. Ela teve que ser submetida a um tratamento agressivo para evitar a reincidência da doença e deverá seguir com quimioterapia até fevereiro do ano que vem. “Tem que estar atento aos sintomas básicos”, recomenda Ana, que está cursando pedagogia.

ONG Viver tem 23 anos de história
ONG Viver tem 23 anos de história | Foto: Pedro Marconi

“Imagina receber a notícia que seu filho tem um câncer. Você perde o chão. Por isso, estamos aqui para mostrar que existe cura, que a família não está sozinha e para dia após dia amparar as famílias e crianças, dando, principalmente, suporte emocional. O ingrediente principal da ONG, além de todos serviços, é o carinho e o amor”, cita Pirani.

SERVIÇO – Quem quiser ajudar a ONG Viver pode entrar em contato pelo número (43) 3343-0044. O endereço é rua Lucila Balalai, 391, no jardim Petrópolis.