Embora reconheçam que o mercado de aplicativos de transporte compartilhado tem forte concorrência de companhias nacionais e globais, empresas londrinenses querem conquistar um pedaço ou até a liderança nesse filão. Há pelo menos três delas atuando na cidade buscando meios de obter competitividade frente a esse mercado.

Imagem ilustrativa da imagem Londrinenses lançam apps de transporte compartilhado
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Para Flávio Tavares, do Instituto Parar, que atua na área de mobilidade, existe uma grande tendência de regionalização e segmentação do mercado de transporte compartilhado. Na opinião dele, as empresas regionais conseguem manter a qualidade do serviço prestado e o relacionamento com os motoristas de maneira mais consistente. "Dependendo da proposta, se a empresa consegue trabalhar muito o quesito da qualidade, a linguagem regional, há boas chances de se consolidar." E mesmo sem regulamentação para esse tipo de atividade, segundo Tavares, o surgimento de empresas nesse segmento continuará acontecendo. "Estamos vivendo um período que que não dá para esperar a regulamentação. A regulamentação não vai ser impeditivo para a inovação."

A Tok Mobility iniciou suas atividades há menos de um mês em Londrina com a aposta na segurança para conquistar clientes. As viagens são 100% rastreadas pela empresa e um sistema consegue detectar a presença de um passageiro armado através de um sistema similar ao das portas de bancos, através da detecção da alteração do peso de metais dentro do carro. Os carros também serão equipados com um botão oculto, que é acionado pelo motorista em situações de perigo.

Assim que o alarme é acionado, o carro passa a ser monitorado pela central, que avisa a polícia e informa as coordenadas do veículo. Os carros também recebem um adesivo reflexivo para que a polícia os encontre mais facilmente. Caso o celular do motorista também seja roubado, o aparelho é equipado com um software que acusa a sua localização mesmo que o smartphone retorne às suas configurações de fábrica. Os sistemas de segurança foram desenvolvidos pela própria empresa, que antes atuava na área de software de segurança, diz o gestor Arthur Bortholazzi. A plataforma por trás do aplicativo de mobilidade é adquirido da empresa TaxiMachine.

A empresa iniciou suas operações antes em Curitiba, Sorocaba e Campinas. Segundo Bortholazzi, que é de Londrina, a ideia inicial não era operar na cidade. "Mas a demanda por segurança aqui é maior que em qualquer município do País", frisa. Em Londrina, são 600 motoristas cadastrados. Em breve, o aplicativo também irá lançar uma categoria de transporte "de mulheres para mulheres" e outra para o público LGBT, que será atendido apenas por motoristas com nota 5 e treinamento, afirma o empresário. Categoria "luxo" e para encomendas e entregas são outros planos da empresa.

SUPORTE
A X49 abriu na quarta-feira (7) uma central com serviços de suporte ao motorista, como equipamentos e produtos para a limpeza do carro, lanchonete sem fins lucrativos, com alimentos a preço de custo, lavatórios e churrasqueira para o happy hour. Em breve, também pretende oferecer serviços de manutenção básica para os veículos a preço de custo.

O foco da empresa, que iniciou suas atividades em Londrina no final de agosto, é dar mais "equilíbrio" na forma como motoristas estão inseridos no mercado de transporte compartilhado, afirma o CEO, Gilmar Santos Bello. Hoje, a X49 tem cerca de 1.400 motoristas, dos quais 400 estão em processo de cadastramento e 450 são mais atuantes. O empresário, que é especialista em gestão de negócios, entrou no ramo após ver que essa era uma oportunidade de negócio que tem muito a crescer e ser explorado, diz.

O aplicativo foi desenvolvido por equipe própria, baseada em São Paulo. "Temos planos de crescimento não só na área de mobilidade urbana, mas também de ramificação do negócio", salienta Bello. Entre o final do mês e começo de dezembro, a empresa irá lançar uma categoria de transporte somente de mulheres para mulheres - em que as motoristas serão aquelas que dão preferência para transportar mulheres e crianças de até 12 anos -, e para animais de pequeno porte. Para breve, a empresa deverá anunciar um recurso de controle de segurança para motoristas e passageiros.

ENTREGAS

A Coolt, londrinense que começou suas operações no mês de fevereiro, aposta no lançamento de um aplicativo de entregas, previsto para terça-feira (13). O porta-voz, que preferiu não se identificar, diz acreditar que esse será o vetor de crescimento da companhia, já que a Coolt contará com a parceria de uma empresa forte no segmento para operar em 200 cidades do País, a aiqfome. "A aiqfome já tem os restaurantes cadastrados, faz a intermediação para as vendas e nós estramos fazendo entregas." O porta-voz ressalta que, hoje, ao contratarem motoboys, escritórios e pequenos comércios têm um custo fixo de cerca de R$ 3 mil ao mês. "Queremos transformar o custo fixo em variável."

A empresa diz que já não tem como atender a totalidade das corridas solicitadas pelo seu aplicativo de mobilidade urbana, haja vista o aumento da demanda. Por esse motivo, cessou a publicidade e vai investir na fidelidade dos seus cerca de 700 motoristas, para que passem a atender somente as corridas da Coolt. Um dos incentivos é o limite de R$ 190 ao mês de taxas de corridas para o aplicativo. Além de Londrina, a empresa atua em Paranavaí com o app de mobilidade urbana. Em breve, deve lançar uma categoria de transporte de mulheres para mulheres. A plataforma utilizada no aplicativo é da TaxiMachine.

A empresa possui sete sócios e investidores de Londrina, Campos Gerais e São Paulo, sendo que o negócio é administrado pelos sócios londrinenses. Dois deles atuam na área de segurança pública. O negócio nasceu como uma cooperativa de transporte. O nome, Coolt, vem da sigla. "A Coolt nasceu como uma cooperativa e se transformou em empresa com o objetivo de fazer mobilidade urbana", ressaltou o porta-voz.

Aplicativos buscam "um lugar ao sol"
Dentre as novas empresas de transporte compartilhado, há aquelas que buscam pelo menos um espaço no mercado e aquelas que têm a liderança como meta. Gilmar Bello, da X49, diz que a empresa busca ao menos "um lugar ao sol", pois reconhece que concorrer com companhias globais é utópico. "Se a liderança vier, será fruto de nossos esforços. No mercado de mobilidade hoje não existe vencedor, pode ser que o pequeno vire um gigante."

Em Londrina, a empresa almeja alcançar 1/3 do mercado de transporte compartilhado. Ainda esse mês, deve expandir para Toledo, Cascavel, Marília e Assis. No começo de dezembro, para Cornélio Procópio, Cuiabá e Ourinhos. Mas o projeto é nacional, assegura Bello. "Em 2020 estaremos nos grandes centros." A companhia promete levar o centro de suporte aos motoristas a todas as cidades com mais de mil corridas ao dia.

A Tok Mobility considera saudável que um motorista trabalhe utilizando outros aplicativos. "É saudável que eles trabalhem com várias empresas porque eles não andam com o carro vazio, estão sempre com chamado. O que temos que fazer é, entre as empresas, gerar uma demanda maior", diz o gestor Arthur Bortholazzi. Apesar de reconhecer a concorrente global como líder no mercado, a empresa busca pelo menos chegar a números próximos aos da concorrente em termos de operação. No primeiro semestre, a companhia leva o aplicativo a Maringá, Ponta Grossa, Cascavel, Foz do Iguaçu, Joinville, Florianópolis e Porto Alegre. A Tok também busca atuar em Santarém (Pará), com vistas no mercado nacional.

A Coolt quer a liderança nas cidades onde atuar e, a partir de uma expansão "orgânica", atingir o mercado nacional. O surgimento da empresa veio para fazer frente às grandes organizações do setor. Na visão do porta-voz, que preferiu não se identificar, uma empresa do porte de uma startup consegue tomar decisões mais rapidamente e serem mais competitivas. "Vamos perceber no mercado que grandes empresas vão se tornar extintas porque o organismo delas é muito pesado, necessita de uma estrutura muito grande. Novas startups necessitam muito pouco para funcionar e dão resultado muito grande. Essa nova ideia que tentamos acompanhar."